São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Moradores iniciam vigília por condenação

DA SUCURSAL DO RIO

Com faixas pedindo justiça e entoando cânticos pela paz, moradores de Vigário Geral e da favela vizinha Parada de Lucas (zona norte do Rio) iniciaram ontem uma vigília pela condenação dos acusados pela chacina de 93.
Com lágrimas nos olhos, Maria de Lourdes da Costa relembrou o assassinato do filho, Clodoaldo Pereira da Silva, 22, e pediu a pena máxima para os autores das 21 mortes da chacina.
A vigília continua hoje à tarde na porta do fórum, no centro, quando começa o julgamento. Um ônibus transportará moradores da comunidade até o local.
Nascido e criado em Vigário Geral, o artista plástico Valmir Vale, 27, disse não esperar outro resultado da Justiça senão a condenação. Para ele, a sociedade não se conformará com outro resultado.
"Quando morre bandido, a sociedade não se toca. Mas quando trabalhadores são atingidos, como aqui e em Diadema (SP), a sociedade fica traumatizada", disse. Ao todo, 51 pessoas são acusadas pela chacina -a maioria PMs.
Fundado em 1955, o Parque Proletário de Vigário Geral tem hoje cerca de 12 mil moradores. Ontem à tarde, cerca de cem moradores se comprimiram na pequena viela onde fica a Casa da Paz.
Hoje um centro assistencial, cultural e educacional, antes a casa abrigava uma família de evangélicos, dos quais oito foram mortos na chacina. Manifestantes seguravam cartazes em frente à casa, como o que dizia "Justiça, Bem Maior de Uma Nação".
Para o início da noite de ontem, estavam previstos a apresentação de um peça teatral, tendo a chacina como tema, a exibição de "Irmãos de Sangue" (filme de Spike Lee) e a colocação de mil velas acesas.
Moradores afirmaram que a relação da polícia com a comunidade melhorou. Há cinco meses que Vigário Geral vive "ocupada" 24 horas por policiais.
Sem se identificar, moradores reclamaram de alguns PMs que ainda agiriam de forma arrogante, autoritária. Mas, afirmaram que não há mais troca de tiros na favela ou ações policiais violentas.
O secretário-executivo da Casa da Paz, João Duarte, 39, disse que os PMs precisam "se desmilitarizar", aprendendo a conversar, "a ter mais jogo de cintura".

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