São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 1997
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Mostra traz Di que Mario colecionou

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais que traçar o retrato de um artista quando jovem, a mostra de trabalhos de Di Cavalcanti que o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), na USP, inaugura hoje, serve para reconstituir a amizade que uniu o pintor ao escritor Mario de Andrade (1893-1945).
A mostra "O Jovem Di" é composta por 41 trabalhos do artista plástico reunidos pelo escritor entre os anos 10 e 30, período em que teve mais contato com o círculo modernista.
A representação sem nacionalismos que Di Cavalcanti fez da realidade social do país e de seus personagens despertou o interesse de Mario de Andrade, que passou a colecionar obras do jovem artista.
"Mario de Andrade percebe que Di Cavalcanti se preocupa com a arte brasileira, mas sem uma teorização. Di se aproxima da realidade brasileira por caminhos paralelos aos dos modernistas", disse Marta Rossetti Batista, diretora do IEB.
"Di Cavalcanti (...) Nacionalizou-se conosco, ao mesmo tempo em que o modernismo o fazia mudar de hora e estação. (...) Sem se prender a nenhuma tese nacionalista, é sempre o mais exato pintor das coisas nacionais. Não confundiu o Brasil com paisagens; e em vez de Pão de Açúcar nos dá sambas, em vez de coqueiros, mulatas, pretos e carnavais", escreveu Mario no "Diário Nacional", em 8 de maio de 1932.
Além de seu interesse pessoal em acompanhar a evolução de Di Cavalcanti, reconhecido pelo próprio Mario em textos publicados em jornais da época, suas aquisições de obras visavam também ao sustento de Di. Algumas cartas em exposição na mostra evidenciam as constantes dificuldades financeiras do pintor. Em uma delas, com muito humor, Di manifesta seu desejo -não realizado- de pintar um retrato do amigo escritor (leia carta ao lado).
Além dos trabalhos de Di, o IEB detém o acervo completo de Mario de Andrade, com 664 obras, que inclui ainda objetos populares, imagens religiosas, objetos da Revolução de 32 e mobiliário do ambiente de trabalho do escritor, além de desenhos, esculturas e pinturas.
O IEB mantém em exposição permanente parte desse acervo, adquirido no final dos anos 60.
O espaço expositivo do IEB é pequeno, mas conserva uma parte importante da cultura brasileira deste século, como algumas obras do modernismo brasileiro: "O Homem Amarelo" e "O Japonês", ambas de Anita Malfatti. Expõe ainda obras de Rego Monteiro, Portinari, Clóvis Graciano, Volpi, Guignard, Tarsila do Amaral e Cícero Dias.

Mostra: O Jovem Di
Onde: Instituto de Estudos Brasileiros - USP (av. Professor Mello Moraes, travessa 8, 140, tel. 011/818-3247, USP)
Vernissage: hoje, às 17h
Quando: de segunda a sexta, das 14h às 17h
Quanto: entrada franca

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