São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Leque amplo de apoio preocupa liderança

IGOR GIELOW
DA REPORTAGEM LOCAL

O amplo leque de apoio à manifestação dos sem-terra hoje em Brasília assusta lideranças do MST, embora pesquisa Datafolha mostre que 93% dos integrantes da marcha aprovam a integração com outras categorias.
A chegada da marcha pode entrar para a história do governo FHC como a primeira demonstração de vigor da oposição.
Nunca houve chance de exposição tão grande para os contrários a FHC. E para outros não tão explicitamente de oposição: o Conselho Federal de Psicologia convocou ontem seus filiados para a marcha.
"Disposição para interferir no próprio destino é elemento fundamental para a manutenção da saúde mental", diz nota oficial.
Stédile
O próprio ideólogo do MST, João Pedro Stédile, disse anteontem que cada categoria deveria marchar "sua própria marcha".
Disse que preferia ver "quem tivesse fome invadindo supermercados". Stédile teme que a miríade de movimentos sociais ou corporativos que se agrega neste ponto final da marcha possa diluir a bandeira de defesa da reforma agrária a que ela se propõe.
Sabe que há possibilidade de o movimento ser confundido a tantos outros contra a "política neoliberal de FHC".
São 1.400 sem-terra em marcha. O Distrito Federal crê em até 50 mil pessoas se aglomerando.
Entre os manifestantes, há entidades de seringueiros, índios, negros, meninos de rua, aposentados, mulheres, bancários, professores, médicos, servidores públicos e toda sorte de políticos.
"Vejo com bons olhos a solidariedade, mas espero que os sem-terra sejam espertos com os oportunistas. Eles correm o risco de serem usados", afirma José Antônio Trasferetti, professor da PUC de Campinas que atua junto a movimentos populares.
Quase todos os manifestantes trarão agendas próprias.
Segundo a confederação dos professores da rede pública, os 4.200 representantes da classe que irão à marcha vão pedir a manutenção das aposentadorias especiais e da estabilidade do servidor.
Protestos contra a venda da Vale do Rio Doce também serão uma constante, diz a CUT.
Há outros temas: o Proer e as demissões do Banco do Brasil, criticada pelos 2.500 bancários paulistas que devem ir a Brasília.
"Isso em princípio não é o problema. Acho que a marcha leva à discussão de base sobre o campo, o que é importante", afirma a socióloga Heloísa Helena Teixeira de Souza Martins, da USP.

Texto Anterior: Reforma agrária cria os sem-informação
Próximo Texto: Como será a manifestação de hoje em Brasília
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.