São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 1997
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CPI investiga ligação de PMs com tráfico

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

A CPI do Crime Organizado da Assembléia Legislativa de São Paulo iniciou ontem a apuração sobre o possível envolvimento dos PMs flagrados pela TV torturando civis na favela Naval, em Diadema, com o narcotráfico.
O deputado estadual Elói Pietá (PT), relator da comissão, se reuniu com o diretor do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), Marco Antônio Ribeiro Campos, e membros da divisão de informação do departamento.
Ele solicitou um levantamento de 1996 e 97 sobre flagrantes e apreensões de drogas no município de Diadema e, especificamente, na região da favela Naval.
Segundo Pietá, a CPI investiga duas hipóteses: de os PMs acusados de espancar estarem ligados ao tráfico na favela Naval ou de eles terem extorquido os traficantes da região.
Outro ponto de partida para as apurações é a prisão de Josenaldo Pereira de Assis e Valdir Pinheiro dos Santos, detidos desde o dia 4 de abril sob a acusação de tráfico.
Moradores de Diadema, foram flagrados em São Bernardo (também no ABCD) com 5,5 kg de cocaína, ao fazer a entrega da droga.
"Estudamos a possibilidade de eles serem os fornecedores de drogas da favela Naval", diz Pietá. O Denarc investiga essa hipótese há três meses.
Se as investigações confirmarem que Assis e Santos forneciam drogas a outros traficantes da favela Naval, será possível relacionar esse caso com a ação dos PMs em Diadema.
"Há, inclusive, depoimentos de vítimas dos espancamentos que disseram desconfiar que os policiais estavam sob efeito de drogas nas blitze que foram filmadas pelo cinegrafista", disse o relator da comissão.
Pietá está elaborando um relatório parcial sobre o envolvimento de policiais militares no narcotráfico da favela Naval para ser distribuído aos integrantes da CPI do Crime Organizado.
O documento será entregue também aos deputados integrantes da CPI de Diadema, no início da próxima semana.
Disputa
Com a criação de uma CPI específica para apurar o caso de Diadema, dias depois da exibição das imagens dos PMs espancando civis pela TV, iniciou-se uma disputa política entre deputados das duas comissões.
Todos queriam estar à frente das investigações, amplamente divulgadas pela imprensa.
A crise só foi abafada no final da semana passada, depois de reunião de lideranças na Assembléia que envolveu até o presidente da casa, deputado Paulo Kobayashi (PSDB).
A CPI do Crime Organizado, criada em 95, se responsabilizou pela ligação dos PMs com o narcotráfico. A CPI de Diadema, pelas investigações gerais.
"Agora, estamos tentando ouvir o cinegrafista para verificar qual a relação que ele tem com os traficantes da favela Naval. Queremos informações de bastidores", disse Afanasio Jazadji (PFL), presidente da CPI do Crime Organizado.
O presidente da CPI de Diadema, Carlos Sampaio (PSDB), se reuniu ontem com representantes de entidades de direitos humanos, que pediram que a comissão amplie o foco da discussão e reveja a atuação da PM no Estado.

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