São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 1997
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Exame anual de câncer evita casos avançados

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A NOVA ORLEANS

Exames para diagnóstico precoce do câncer da próstata repetidos por vários anos podem baixar a zero os casos avançados da doença. Foi o que mostrou um estudo realizado numa população de Denver por pesquisadores da Universidade de Colorado e do Conselho para a Educação do Câncer Prostático.
A pesquisa foi apresentada no encontro da Associação Americana de Urologia que acabou ontem em Nova Orleans (EUA). Por cinco dias, a prevenção do câncer de próstata foi um tema recorrente.
"Não há outro caminho se não a prevenção", diz Orlando Hugo Praun Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). A mídia -e especialmente as vítimas famosas da doença- estão levando os homens a se resignarem (até recentemente) ao abominável toque retal -exame da próstata que o médico faz introduzindo um dedo no ânus do paciente.
'Efeito Maluf'
O câncer anunciado do ex-prefeito Paulo Maluf foi um divisor de águas no movimento pelo diagnóstico precoce, dizem os médicos. "O número de homens que está fazendo o teste cresceu pelo menos 20% depois que a imprensa falou do caso Maluf", diz Praun.
O "efeito Maluf" deu um empurrão, mas ainda não convenceu governo e instituições a organizarem campanhas de massa para os exames de prevenção. "Governo, sociedade e entidades médicas precisam participar desse esforço", diz Ronaldo Damião, presidente eleito da SBU.
Para se detectar a existência de um câncer da próstata, os urologistas dizem que é preciso se submeter a um exame do toque retal e a um teste do PSA, feito através de um simples exame de sangue -prática adotada no mundo todo para diagnóstico precoce.
O PSA é um antígeno prostático liberado no sangue quando há um tumor na próstata. Se o índice for superior a 10, há 60% de chances de o paciente estar com um câncer. Acima de 20, já há um câncer disseminado. Se o índice estiver entre 4 e 10 -faixa indefinida-, o paciente será submetido a uma ultra-sonografia retal ou a uma biopsia, diz Praun.
Nos EUA, com as semanas de alerta contra o câncer da próstata -como começam a ser feitas no Brasil- 70% dos tumores foram detectados em fase inicial, ainda dentro da cápsula da próstata. No Brasil, 80% está em fase avançada.
Os custos econômicos e sociais são gigantescos. Só nos EUA, gasta-se US$ 850 milhões de dólares por ano em tratamento cirúrgico da próstata e outros US$ 450 milhões em tratamento clínico.
Entre os americanos, estão sendo esperados para este ano 334.500 casos novos de câncer de próstata, com 41.800 mortes. No Brasil, não há dados.
A discussão -que voltou à baila no congresso de Nova Orleans- é o custo-benefício na realização em massa de diagnóstico precoce em homens acima de 60 anos.
No Brasil, por exemplo, testes do PSA e do toque, aplicados numa população de 10 milhões a um custo de R$ 50,00 por pessoa, resultariam em R$ 500 milhões anuais.
"Seria preciso restringir esse grupo, por exemplo, àqueles que tem algum tipo de sintoma", diz professor Carlos D'Ancona, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A dificuldade é que, em muitos casos, o câncer pode levar dez anos para se manifestar.

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