São Paulo, sábado, 19 de abril de 1997
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Sem-terra e FHC não chegam a acordo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não chegaram a um acordo ontem. Depois de reunião que durou uma hora e 15 minutos, os sem-terra continuaram criticando o governo, prometeram manter as invasões e dobrar o número de acampamentos.
Ao final do encontro, o presidente falou à imprensa. Disse que não podia imaginar que não "haja vontade de cooperar". Atacou também a "atitude negativista" em relação à reforma agrária.
Segundo o porta-voz Sergio Amaral, o presidente tratou de rebater, um por um, os nove itens reivindicados pelo MST contidos em documento entregue no início da reunião.
O presidente sugeriu a criação de uma comissão para discutir as reivindicações dos sem-terra. Os líderes do MST não deram resposta.
Disseram que vão submeter a proposta aos integrantes do movimento, o que será feito hoje, em assembléia no acampamento da esplanada dos ministérios.
Os sem-terra saíram do encontro prometendo repetir, no Dia do Trabalho (1º de maio) e no dia 25 de julho (considerado Dia do Trabalhador Rural), a mobilização que aconteceu anteontem em Brasília.
"Vamos fazer da reforma agrária a mesma bandeira das diretas-já e do "fora Collor"', afirmou José Rainha Jr., um dos líderes dos sem-terra.
Rainha afirmou que as manifestações contarão com o apoio da CUT (Central Única dos Trabalhadores), CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e movimentos populares.
Segundo ele, a idéia é repetir nas capitais dos Estados grandes manifestações de trabalhadores rurais e urbanos pela reforma agrária.
Ao encontrar os sem-terra na sala, o presidente cumprimentou apenas dois representantes do MST, Gilmar Mauro e João Pedro Stédile. Rainha estava mais distante, porque cedeu seu lugar para outro sem-terra. Mais tarde, ao final do encontro, FHC cumprimentou Rainha.
Anteontem, na chegada da marcha a Brasília, Rainha chamou o ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) de "canalha".
Jungmann, que levou para a audiência números e propostas para discutir com os sem-terra, só conseguiu falar uma vez -para rebater crítica de Stédile ao projeto Lumiar, criado neste ano para prestar assistência técnica aos assentamentos.
Segundo Jungmann, FHC não lhe deu a palavra e rebateu ele mesmo as críticas aos projetos e aos números do governo sobre famílias assentadas.
Jungmann ficou calado quando Stédile disse que os sem-terra não o aceitam como interlocutor do governo.
"Não adianta lavar porco com xampu. O presidente está mal informado sobre a realidade e não quer admitir os problemas", disse Ênio Bonemberger, da coordenação nacional do MST.
FHC disse que o governo está disposto a baixar uma MP (medida provisória) para atender a maior parte dos pedidos do MST relacionados com mudança na legislação. Ele afirmou que concorda com a maioria deles. A Folha apurou que essa MP já está preparada e altera a lei 8.629/93, que trata da reforma.
Os sem-terra entregaram ao presidente duas cartas. Uma era assinada pela coordenação da marcha pela reforma agrária e outra pela coordenação do MST.
Eles reivindicaram o assentamento de 500 mil famílias até o final de 98 e mais recursos para a reforma agrária e assentamentos.
Stédile disse que não houve respostas concretas do presidente durante o encontro.
Segundo ele, a intenção foi levar ao presidente as críticas da sociedade ao seu governo. "Não saímos nem satisfeitos nem insatisfeitos."
Rainha afirmou que teve "uma baita aula" do sociólogo Fernando Henrique. "Isso nós vamos acatar: 'Vocês são importantes e devem se mobilizar'. Perfeitamente, presidente. É isso o que vamos fazer."

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