São Paulo, sábado, 19 de abril de 1997
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Estado tenta acelerar despejo no casarão

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Procuradoria do Patrimônio Imobiliário da Procuradoria Geral do Estado entrou com um recurso para tentar acelerar o despejo das famílias que ocupam o casarão de Santos Dumont, na esquina das alamedas Nothmann e Cleveland, em Campos Elíseos (centro de São Paulo), invadido em 9 de março.
Após a invasão, o Estado obteve liminar de reintegração de posse no imóvel, concedida pela juíza Inah Lemos e Silva Machado.
A liminar condicionou o despejo à construção de um alojamento ou albergue para os moradores e um aparato de assistência social.
O imóvel, que está sendo tombado, pertence a Secretaria da Cultura do Estado.
O recurso pede que seja retirada da liminar a exigência da construção de um local para transferir os atuais invasores, mas não foi questionada a exigência do acompanhamento por assistente social.
Segundo o procurador Ari Eduardo Porto, o recurso foi encaminhado ao 1º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, onde está sendo apreciado. Não há data definida para a divulgação da decisão.
Caso ganhe o recurso, o Estado fica desobrigado de transferir os invasores do casarão para um alojamento e, automaticamente, fica facilitado o despejo.
A política habitacional do Estado, segundo Porto, não prevê alojamentos provisórios. A CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado) oferece empréstimos para compra definitiva de imóveis.
"O Estado não está aparelhado para construir alojamentos e a lei também não os prevê."
Segundo Porto, o despejo não aconteceu até agora por causa da imposição existente na liminar.
"A liminar é impossível de ser posta em prática", afirmou Porto.
Segundo o advogado José Laurindo de Oliveira, da Associação em Defesa da Moradia, o recurso é legítimo. "Porém, é uma estratégia do Poder Público para apressar o despejo das pessoas."
OAB
A subcomissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) esteve ontem no casarão de Santos Dumont, em Campos Elíseos, onde crianças são a maioria dos cerca de 400 moradores.
"A situação do casarão não é digna para ser humano nenhum. Vamos encaminhar ao Estado um documento pedindo que as pessoas sejam levadas daqui para um alojamento", disse Vitelmira Alexandrina da Silva, a irmã Miriam, integrante da subcomissão.
Os representantes da OAB também visitaram um cortiço na rua Barra Funda, em Campos Elíseos.

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