São Paulo, sábado, 19 de abril de 1997
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SHABAT ANGUSTIADO

Israel vive, hoje, um descanso sabático com estresse e ansiedade. Será anunciada amanhã a decisão da promotoria sobre o indiciamento do premiê, Binyamin Netanyahu, em inquérito sobre acusações de tráfico de influência. Pesquisas mostram que, se ele for indiciado, a maioria dos israelenses quer a sua renúncia.
A questão teria interesse apenas local, não ocorresse o impasse, senão retrocesso, que atingiu o processo de paz com os palestinos desde a posse de Netanyahu, há 11 meses. Nesse contexto, a decisão da promotoria ganha uma dimensão não apenas regional, mas de repercussões globais.
A gestão de Netanyahu significou não apenas o retorno de posições mais duras, mas também ações (como a construção na parte árabe de Jerusalém) que reativaram o fundamentalismo terrorista do grupo Hamas, minando a esperança de paz.
Claramente, ao fanatismo de um lado correspondeu idêntica atitude do outro lado, comprovando mais uma vez que o futuro da região depende de concessões mútuas.
Aliás, é importante lembrar que não apenas a paz, mas o próprio desenvolvimento econômico e social no Oriente Médio, depende da superação do extremismo em todas as suas manifestações.
Exemplo eloquente é o pedido, feito na última quarta-feira pelo líder do Seminário Teológico Judaico dos EUA, rabino Ismar Schorsch, de desmantelamento do rabinato israelense, que tem defendido o não reconhecimento de judeus não-ortodoxos no mundo todo. Schorsch pede o fim das doações aos grupos que em Israel apóiam essa orientação do rabinato que se firmou numa atmosfera de fanatismo religioso reforçada após a eleição de Netanyahu.
Política e religião raramente combinaram-se virtuosamente, menos ainda Estado e religião. Com ou sem "Bibi", o mundo espera que o processo de paz volte a se pautar minimamente pelos princípios da razão.

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