São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Adolescente troca crack por pintura

DA REPORTAGEM LOCAL

R.S.O., 17, cursou só até o segundo ano primário em Jundiaí. Aos 13, quando morava em Santos (litoral sul de São Paulo), foi apresentado ao crack por um amigo na praia. Nos três anos seguintes, passou a usar a droga diariamente.
"Eu Fiquei alucinado. Não sabia fazer outra coisa a não ser roubar e comprar as pedras de crack com o dinheiro que conseguia", diz ele.
Há quase um ano, o garoto conseguiu deixar de usar a droga e afirma: "Eu não penso mais em fumar crack".
R. passou a frequentar o SOS Criança, onde começou a assistir aulas e cursos oferecidos pela entidade a menores carentes e/ou infratores de São Paulo.
Num desses, R. descobriu um talento até então estava escondido em sua personalidade.
Ao deixar o crack de lado, ele descobriu que tinha talento com pincéis e tintas.
Hoje, ele passa o dia pintando quadros "impressionistas", segundo sua própria descrição, no 2º andar do SOS Criança, no Brás (região central da cidade).
A cada nova obra, ele ganha elogios de Paulo Vitor Sapienza, coordenador do SOS.
"R. é talentoso e se tornou um exemplo aqui. Tenho certeza de que ele nunca mais usará drogas", afirma Sapienza.
O coordenador do SOS já adotou três crianças -todas ex-viciadas em crack.
O artista confirma: "Não vou mais usar mesmo. Tenho amigos que ainda são viciados. Eles sempre me oferecem um pouco, mas eu não quero. Nem de graça eu quero crack. Até de graça essa droga sai cara demais para minha vida", diz.
"Revoltada"
Aos 17 anos, K. M. espera seu segundo filho. Grávida de oito meses, sem profissão, sem escolaridade, ela afirma que dos 14 aos 17 só fez uma coisa na vida: fumar crack. Desde o ano passado, diz a jovem, largou a droga.
Ao contrário de R., Kelly não tem certeza de que vai conseguir abandonar o crack.
"Este ano eu não fumei nenhuma vez. Mas quando eu fico revoltada, é a primeira coisa que eu penso", diz enquanto segura o filho um ano no colo.
Ela diz que foi abandonada aos 14 anos pelos pais. Foi morar com uma tia, que permitia que um amigo fumasse crack escondido em sua casa. K. assistia a tudo. Viciar-se foi questão de dias.
"Quando eu tenho vontade de fumar, tento pensar sempre no meu filho. Só assim eu consigo ficar longe dessa droga."

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