São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Evangélicos dizem converter homossexual

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os maiores grupos pentecostais vêm realizando a "conversão" ou "redenção", ou ainda, "libertação", de homossexuais no Brasil. É a principal ação de seitas como a Igreja Universal do Reino de Deus, no campo comportamental.
Um estudo feito pela socióloga Maria dos Dores Campos Machado mostrou maior preocupação com o tema do que com qualquer outro, quanto à sexualidade.
"A homossexualidade é mais difícil até que o aborto, para os pentecostais. Ela quebra com a questão central, a família, e o princípio de reprodução, a sexualidade para a reprodução humana."
Diversos casos de "conversão" têm sido usados como exemplo, nas igrejas. Um deles, o de André Luís da Cruz, 28, era citado no início de dezembro pela "Folha Universal", da Universal, como um "liberto do homossexualismo" e da "vida de prostituição".
Uma das razões para a maior atenção dos pentecostais ao tema, segundo a socióloga, foi o debate sobre o projeto de união de homossexuais, da deputada federal Marta Suplicy (PT-SP).
A deputada confirma o interesse dos evangélicos. "Eles me assediam muito para ver essa 'redenção'. Mas acho absurdo. Não é doença para ser curada."
O que a análise das "redenções" apontou de inesperado, segundo a socióloga, foi a "explicação espiritual" para a homossexualidade.
O comportamento homossexual seria uma manifestação da presença de um espírito feminino, a pomba-gira.
A explicação estaria vinculada à "concorrência" por fiéis, entre as igrejas evangélicas e o candomblé, o culto de origem africana mais aberto ao homossexualismo.
Os pentecostais oferecem, além do diagnóstico, a terapia: um "exorcismo" social.
Sufocam o novo membro com cultos quase diários e atividades ligadas à igreja, aos poucos fazendo com que se distancie do círculo anterior.
Nem todos, no movimento evangélico, aceitam a ação repressiva ao homossexualismo. O pastor Nenhemias Marien, presbiteriano, da formação calvinista, mas com "uma postura um pouco carismática", segundo a socióloga, confronta os demais.
Dois anos atrás, realizou um casamento de homossexuais que abriu um gigantesco debate entre os evangélicos.
"A mentalidade dita cristã é homofóbica", diz ele. "Tem uma crise quando vê um homossexual na congregação."
Despreocupado com polêmicas, o pastor chega a afirmar que "o amor entre gays e lésbicas é o mais puro, porque não há nenhuma motivação".
No livro "Jesus, a Luz da Nova Era" (ed. Record, 1995), detalha a opinião dizendo que "na homossexualidade se pratica o amor liberto de todas as formas de preconceito, numa entrega plena e sem restrições. Por isso mais puro e sincero."

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