São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Ciência do cérebro altera visão do ensino

FERNANDO ROSSETTI
DE NOVA YORK

A promoção pelo presidente e pela primeira dama dos EUA, Bill e Hillary Clinton, da "Conferência da Casa Branca sobre desenvolvimento e aprendizagem na infância: o que as novas pesquisas do cérebro nos dizem sobre nossas crianças mais jovens" revela falhas na reforma do ensino brasileiro.
O que essas pesquisas dizem é que o cérebro se forma na relação da criança com o ambiente, e que isso ocorre principalmente dos 0 aos 10 anos -e de forma ainda mais acentuada dos 0 aos 3.
Crianças que têm pouco estímulo na fase inicial da vida deixam de formar certos "circuitos" no cérebro. Exemplo clássico é o da criança que nasce com catarata ("mancha" no olho que impede a visão).
Se a catarata não é removida até os 2 anos, a criança será cega para sempre -porque faltou estímulo para formar os "circuitos" que levam impulsos do olho ao cérebro.
Embora extremo, esse exemplo tem paralelo com a capacidade de falar, ler, cantar, tocar instrumentos, dançar, falar outras línguas, enfim, com tudo que se aprende.
A conferência de Washington, transmitida via satélite para mais de cem cidades, pretendeu dar um impulso para "melhorar a qualidade e a acessibilidade dos serviços de atendimento infantil" nos EUA, segundo o presidente Clinton.
7 anos
A questão para o Brasil é que praticamente todas as reformas do ensino em andamento atualmente -do governo federal aos nove Estados do Nordeste, passando por São Paulo- priorizam o ensino fundamental (7 a 14 anos), frequentemente em detrimento da educação infantil (0 a 6 anos).
O fundão, que vai vigorar de 1998 a 2007, põe 60% do dinheiro da educação no ensino fundamental -o que para muitos municípios significa menos dinheiro para pré-escolas. A secretária da Educação de São Paulo, Rose Neubauer, quer fechar a última pré-escola do Estado, na Experimental da Lapa.
O antes razoável sistema de creches da Prefeitura de São Paulo passou por uma série de crises financeiras durante a administração Paulo Maluf (1993-96).
O principal argumento que vem sendo utilizado pelos governos é que, com o dinheiro disponível, é necessário priorizar determinadas áreas da educação.
O que a conferência mostra é que a priorização de recursos para o ensino de 1º grau no Brasil pode estar pegando as crianças em uma fase já tardia de sua formação.
Por exemplo: ao entrar em uma escola só aos 7 anos, os filhos dos 20 milhões de analfabetos do país vão, quase fatalmente, ter dificuldade para aprender a ler e escrever.

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