São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Londrinos e turistas perdem disfarce nos parques

EDSON FRANCO
DO ENVIADO ESPECIAL

Numa cidade em que, à primeira vista, nenhum grupo étnico parece ser maioria, os parques e praças de Londres são um dos lugares em que você pode pôr de lado o disfarce de turista e ter uma idéia mais abrangente do que é um londrino.
Algumas pessoas pertencentes a esse grupo são facilmente identificáveis. São executivos de terno que aproveitam a pausa do almoço para tirar sapatos e meias, afrouxar o nó da gravata e se esparramar pelos gramados.
São estudantes tentando decifrar a poesia de Yeats ou calculando um vetor sob as árvores, incomodados apenas por algum futuro centroavante do Arsenal que, involuntariamente, chuta a bola na direção dos livros em vez de tocá-la de volta para seu pai.
Há ainda aqueles londrinos prevenidos que saem de casa carregando uma cadeira dobrável debaixo do braço. Com um jornal ou revista na mão, eles tentam aproveitar o esforço do Sol para atenuar o frio primaveril.
Mas há também, é claro, uma multidão que usa o banco das praças para abrir mapas enormes e tentar descobrir o caminho que leva até o Big Ben.
Campo de caça
St. James's Park é o lugar onde as características descritas nos parágrafos anteriores aparecem de maneira mais incisiva.
Muitas árvores, jardins, um lago, várias alamedas e a proximidade com as principais atrações da cidade tornam esse parque uma ótima pausa para pernas e olhos.
É difícil acreditar, mas esse espaço, dividido hoje por londrinos, turistas, patos, gansos e pelicanos, já foi um pântano.
Durante o reinado de Henrique 8º (1509-1547), a área foi drenada para servir como campo de caça.
Uma das praças mais charmosas do centro da cidade atende pelo nome de Leicester (pronuncia-se léster). Aparentemente, ela não leva nenhuma vantagem sobre as outras praças da cidade.
Gramados, bancos, uma estátua de Charlie Chaplin e um quiosque que vende ingressos de teatro mais em conta descansam o olhar.
Mas o visitante é atraído ao lugar por forças gravitacionais, até porque o cientista britânico Isaac Newton morou ali.
Em parte, o que explica o charme da praça são as ruas que o circundam. Além de abrigar cinemas, teatros e restaurantes, elas servem de palco para palhaços, malabaristas, engolidores de fogo, cantores de ópera e até grupos que tocam bossa nova em inglês.
Hitchcock
Ela é um dos poucos pontos da cidade em que é permitido alimentar os pombos. É uma festa para a qual o ingresso custa 25 centavos de libra (preço do pote de ração).
Algumas aves se sentem tão à vontade que passam minutos no ombro, na cabeça ou nas pernas das pessoas que oferecem o repasto. Para fazer a digestão, os pássaros ensaiam um vôo coletivo que provoca um leve calafrio em quem já viu o filme de Hitchcock.
Comícios políticos e comemorações de Ano Novo são os únicos momentos em que os pombos ficam sem o banquete.
Com utilização bem diferente daquela imaginada pelo escultor Edwin Landseer, os quatro leões que cercam a coluna de Nelson viram montaria para turistas.
Suvenir chinês
Abençoados pela estátua de 1892 que representa Eros, o deus grego do amor, os turistas inundam Piccadilly Circus. Além do visual cheio de néons, o poder aglutinador dessa área se escora nos estabelecimentos comerciais.
Lojas de suvenires vendem um conjunto de miniaturas chinesas de ônibus de dois andares e táxi por 3,50 libras. A gigantesca Tower Records anuncia uma promoção de três CDs por 22 libras.
Com olhar desapaixonado, orientais torram suas últimas moedas em casas de diversões eletrônicas que abrigam máquinas de pôquer e caça-níqueis.
Ponto de concentração mais movimentado da área, o prédio do London Pavillion é onde o contra-senso chega ao paroxismo.
Sua fachada centenária comporta uma sacada com estátuas coloridas de ídolos pop como Elvis Presley, David Bowie e Mick Jagger.
No interior do prédio, lojas, lanchonetes e um centro diversão disputam o prêmio de quem tem o visual mais futurista.
(EF)

Texto Anterior: Aglomeração; Filas; Fumo; Horário; Saúde; Terror; Transporte; Violência; Vocabulário
Próximo Texto: Tempo voa no interior dos museus locais
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.