São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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O atentado hora a hora

- A agressão
Domingo, 20 de abril

0h
O índio Galdino Jesus dos Santos sai de uma manifestação do Dia do Índio, na sede da Funai. Perde-se no caminho para a pensão onde estava hospedado

2h
Cinco jovens de classe média -Max Rogério Alves, Antônio Novély de Vilanova, Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves de Oliveira e G.N.A.- deixam o Centro Comercial Gilberto Salomão, onde se divertiam

3h
Devido ao horário, Galdino Jesus dos Santos não consegue entrar na pensão Vera. Vai dormir em um ponto de ônibus próximo à pensão
Entre 2h30 e 4h50
Os cinco jovens trocam os dois carros que utilizavam -um Honda Civic e um Fiat Uno- por um Monza preto, dentro do qual havia garrafas de um líquido inflamável

5h
O Monza preto para em frente ao ponto em que dormia Galdino dos Santos. Os rapazes descem do carro, lançam sobre o índio um líquido inflamável (provavelmente álcool) e ateiam fogo

5h01
Em chamas, o índio é socorrido por seis pessoas que passavam pela avenida em três carros. Uma testemunha anota a placa do Monza, ao ver pessoas correndo em direção ao carro e fugindo em seguida

5h20
Um carro da PM passa casualmente pelo local. A PM chama o Corpo de Bombeiros, que leva Galdino Jesus dos Santos, cinco minutos depois, ao HRAN (Hospital Regional da Asa Norte), onde há tratamento para queimados

5h40
O índio chega consciente ao HRAN, mas com 95% de seu corpo queimado. É sedado e a partir desse momento fica desacordado

5h45
Nairo Euclides Santos Magalhães, que havia anotado a placa do Monza, é levado para prestar depoimento à polícia

6h30
A partir da placa JDQ-5807, a polícia chega a casa de Max Rogério Alves. Ele fornece o nome dos demais participantes. Às 8h, todos já estavam detidos

- Quem são os acusados
- Max Rogério Alves, 19
Dirigia o Monza utilizado no crime. Na polícia, declarou ser estudante e afirmou que jogou fósforos acesos sobre o índio - que pensava ser mendigo. É enteado de um ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Walter Medeiros

- Antônio Novely Cardoso da Vilanova, 19
Filho do juiz federal Novely Reis. Mora com um irmão numa quitinete na Asa Norte. Segundo a polícia, não concluiu o 1º grau. Não declarou profissão. Disse, em depoimento, que ateou fogo ao "mendigo"

- Tomás Oliveira de Almeida, 18
Estudante de administração de empresas, trabalhava como balconista numa lanchonete. Na polícia foi o mais eloquente, descrevendo todo o crime. Disse que também jogou fósforos acesos sobre a vítima

- Eron Chaves de Oliveira, 19
Primo de Tomás. Trabalha com o primo, na mesma lanchonete. Afirmou em depoimento que foi ele quem jogou o líquido que estava numa garrafa sobre as pernas do índio. Disse que até pensou em voltar para acudi-lo, mas foi demovido pelos colegas. É filho do coronel da Polícia Militar Eronivaldo José de Oliveira da Silva

- G.N.A.J., 16
Irmão de Tomás, estudante. Segundo Eron Oliveira, ele também jogou o líquido sobre o homem (que estaria numa segunda garrafa). Os outros três não confirmaram essa versão, dizendo que ele teria também ateado fogo

- O depoimento
Domingo, 20 de abril

18h30
Começam os depoimentos dos quatro maiores de idade participantes do ataque ao índio. Eles confessam a participação. Os depoimentos vão até as 21h30

21h
HRAN divulga boletim sobre o estado do índio. Informa-se que o quadro permanece inalterado. O índio não tem chance de sobreviver, segundo a médica Maria Célia Martins Bispo

23h
Os quatro maiores são levados ao Instituto Médico Legal e submetidos a exame de corpo de delito. Depois vão passar a noite na Coordenação de Polícia Especializada. G.N.A. fica em uma instituição para menores

- A morte
Segunda, 21 de abril

2h
Morre Galdino Jesus dos Santos

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