São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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PM quis evitar acusações, diz Cerqueira

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário da Segurança, general Nilton Cerqueira, justificou a demora da Polícia Militar em conter o tiroteio no morro do Alemão como uma forma de evitar acusações de extermínios e mortes acidentais por culpa de policiais.
"Se subisse (o morro), a imprensa ia dizer que as balas perdidas tinham vindo das armas dos policiais", afirmou Cerqueira, durante o desfile comemorativo da Polícia Militar pelo Dia de Tiradentes, patrono da corporação.
"Se uma patrulha policial persegue os bandidos, consegue êxito e troca tiros, morrem cinco ou seis, vão acusar o policial de extermínio", disse ele.
Segundo o general, a polícia do Rio está sofrendo pressão psicológica da mídia e das organizações de direitos humanos desde que PMs foram flagrados espancando moradores na Cidade de Deus (zona oeste do Rio).
Na mesma solenidade, o governador Marcello Alencar disse que a rotina de operações noturnas foi suspensa para evitar as mortes de PMs em confronto com traficantes e de pessoas das comunidades.
"Não há ordem de não invadir. O que acabou foi a rotina de operações noturnas, elas passaram a ser operações de emergência sob o comando geral da polícia. Vocês não viram quantos paraplégicos passaram por aí?", perguntou.
Os paraplégicos citados pelo governador eram 11 PMs baleados em serviço e presentes ao desfile de ontem. Em cadeiras de rodas, eles abriram a solenidade.
Sete mortes
O desfile teve um tom implícito de protesto pelas mortes de sete policiais nos últimos dez dias. A última vítima foi o soldado Ricardo André da Silva, baleado na madrugada de domingo ao voltar para casa, na Cidade de Deus.
Preso a uma cadeira de rodas desde que levou uma bala na espinha em um tiroteio, o soldado Augusto César Carneiro, 31, pela primeira vez foi ao desfile.
"A polícia não é só tapa e pancada. Ninguém vê o PM que sofre. Só há direitos humanos para os bandidos, ninguém se preocupa se o policial morreu, se ficou numa cadeira de rodas e se vai se reintegrar à sociedade", afirmou.
Carneiro disse que, depois do acidente, foi abandonado até pelos amigos da PM.
Ele ficou com lágrimas nos olhos ao ver a passagem dos antigos companheiros do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que acenaram para ele de longe.
"Quando você sofre um acidente desses, a sociedade te expurga, te empurra para fora dela, e os amigos fazem o mesmo. Mas não me arrependo. Se eu ficasse bom hoje, hoje mesmo voltaria para a polícia", afirmou.
(FE)

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