São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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Ato une sem-terra e índio

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A morte do índio Galdino Jesus dos Santos foi o principal assunto do dia em que Brasília completou 37 anos. Cerca de 800 sem-terra se juntaram ontem a um grupo de 30 índios em uma caminhada de protesto promovida no centro de Brasília contra o assassinato do índio.
Com flores nas mãos, os manifestantes foram saudados por buzinadas quando entraram na avenida W3 Sul. "Justiça", gritavam índios e sem-terra sob uma chuva fina. PMs interditaram o trânsito para a passagem do protesto.
No local do assassinato, cinco pataxós parentes de Galdino choraram e fizeram uma cerimônia simbólica em sua homenagem. Índios xavantes aproveitaram o protesto para pedir a demissão do presidente da Funai, Júlio Gaiger. A manifestação terminou às 17h45, depois que um tambor com papel e álcool foi queimado.
Missa
Pela manhã, em missa solene pelo aniversário da cidade, o cardeal-arcebispo de Brasília, dom José Freire Falcão, fez referência à morte do índio. "Um ato de barbárie que nos envergonha", disse.
"A harmonia na convivência de pessoas dos mais diferentes horizontes culturais foi tristemente ferida por esse crime."
Para dom Freire Falcão, na comemoração do aniversário de Brasília, "todos deveríamos assumir o compromisso de defender a dignidade da pessoa humana e promover o respeito à vida".
Na missa, o presidente interino Marco Maciel cobrou rapidez na punição dos responsáveis pelo crime. A seu lado, o governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, disse que o assassinato do índio pataxó não é um fato isolado e representa o "desprezo da sociedade aos excluídos". "A classe média trata os excluídos como se fossem outro tipo de gente."
A programação oficial para comemorar os 37 anos da fundação de Brasília, que incluía maratona e espetáculo musical, não foi interrompida, apesar do luto oficial decretado pelo governador.
No início da manhã, Buarque dava o tiro de largada da 7ª Maratona de Brasília. "Não podemos cancelar uma maratona com 1.100 participantes porque morreu uma pessoa", disse o secretário de comunicação social do Distrito Federal, Luiz Gonzaga Mota. Ele lamentou o assassinato, mas disse que não havia mais tempo para desmarcar com os artistas contratados para o espetáculo marcado para a noite de ontem.

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