São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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Alvinegro encontra um caminho sem Túlio

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, a impositiva vitória do alvinegro sobre o alviverde, nos verdadeiros embalos de sábado à noite, gerou um benefício adicional para o técnico corintiano, Nelsinho Batista.
Quiçá o maior benefício de todos aqueles que podem ser aferidos de um triunfo tão superiormente conquistado (desde o início do esporte, vitória e derrota faziam parte de um mesmo sacrifício de dedicação aos deuses. O alvinegro propiciou um ritual que deixará o Olimpo, por algum tempo, satisfeito com a vida).
Mais do que uma batalha contra o principal inimigo, o até então ameaçado Batista venceu uma disputa interna.
Ele finalmente faz prevalecer a sua intuição e agora, quase no quinto mês da temporada, o alvinegro pode dizer que tem um elenco principal, que chegou à melhor formatação.
Nesse elenco, Túlio, aquele que poderá ser negociado por corretores de imóveis, disputará, no máximo, o papel de melhor ator coadjuvante.
Com a ressurreição da marcha de Souza, mais a presença do "petit" Marcelo, o preto-e-branco paulistano, qual uma fotografia de Sebastião Salgado ou de Manuel Álvarez Bravo, ganha uma sempre bem-vinda transcendência.
Essa dupla serve de correia de transmissão para o par com o maior apetite para correr atrás da bola do futebol brasileiro: Mirandinha-Donizete, o duo com a maior sanha, com maior ímpeto, com maior fogo.
O corolário pode ser checado na alta taxa de gols convertidos pela vanguarda alvinegra, como há muito tempo a fé corintiana não ousava sonhar.
Nelsinho tem a imagem de um Nelsinho. Parece aquele bom moço repleto de intenções sinceras, mas que parece que não vai dar conta do recado.
Seus opositores no Corinthians acreditaram nessa aparência. No entanto, a falta de ousadia não tem sido a sua marca pessoal, ao contrário.
Ele trocou a rigidez de Túlio pela flexibilidade a todo vapor de Mirandinha e Donizete, em um momento difícil para ele, Nelsinho, no alvinegro.
No meio-campo, acreditou em volantes com QI, com inteligência de jogo em vez de procurar aqueles lutadores de "ultimate fighting" para o setor.
Seu último gesto foi o de acreditar em Silvinho, que parecia muito frágil, para completar a dupla com Gilmar.
O alvinegro, agora, tem time.
Terá até um time e meio, pois, além do Túlio estacionado na garagem, com a chegada de Antônio Carlos, ficará com mais craques de "stand by".
Na disputa de vários torneios simultâneos, como fazem os grandes times do futebol brasileiro, ter um grande elenco nivelado pelo firmamento das estrelas será a situação mais confortável para os técnicos.
No caso do alvinegro, a temer somente a sombra do fantasma do atraso do ajuste do time, pois a urgência do jogo de hoje contra os atleticanos das araucárias, no qual tem a desvantagem dos gols e de atuar sem o Pequeno Marcelo, pode atrapalhar os planos imediatos dos banqueiros que bancam o sonho corintiano.
Mas não deveria atrapalhar, já que o tempo do futebol é diferente do tempo do capitalismo brasileiro, que acha sempre que o retorno do seu investimento é para ontem.

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