São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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Max Cavalera faz homenagem a Science

THALES DE MENEZES
ENVIADO ESPECIAL A OLINDA (PE)

A quinta edição do festival Abril Pro Rock teve seu grande momento às 3h de ontem, quando Max Cavalera e a Nação Zumbi fizeram uma comovente e apoteótica apresentação no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda.
O ex-vocalista do Sepultura se uniu ao grupo em que Chico Science cantava para um set curto, que retomou algumas criações do músico morto em um acidente de carro este ano, numa curva bem em frente ao local do show.
"Um minuto de silêncio, pelo Chico Science", decretou Max antes de iniciar a apresentação, sendo prontamente atendido pelas cerca de 2.000 pessoas que ainda estavam na platéia.
A escolha de bandas pouco atrativas fez a terceira noite do festival ser a mais vazia.
Mesmo com público reduzido, a comunhão dos fãs foi total. "Da Lama ao Caos" começou a festança. A apresentação fundiu os gritos de Max, guitarras nervosas e uma percussão animalesca, criando uma massa sonora indefinida, mas sempre empolgante.
Max e Nação encerraram o dia morno do evento. O primeiro show do domingo, programado para as 16h, só começou às 17h50, quando Selma do Coco entrou no palco com seus percussionistas e seu pequeno coro de meninas.
Endeusada pela crítica local, a cantora de 62 anos cativou a ínfima platéia (menos de 500 pessoas) com seu jeito simples e a visível alegria que sentia pelo reconhecimento de um público tão jovem.
No entanto, o ritmo da roda de coco não difere muito de tantas outras toadas nordestinas e Selma tem pouco mais a oferecer além do exotismo. Sua música anima, mas não aponta nenhum rumo novo.
Depois foi a vez dos Caiçaras, com seu rock agreste e um tanto tosco, sem empolgar.
O veterano local Lula Côrtes fez uma síntese de seus 25 anos de carreira numa correta e aplaudida apresentação.
Aí veio a primeira boa surpresa da noite, as baianas do Penélope Charmosa. Na verdade, são três garotas e dois homens, mas elas são o destaque de uma banda que faz rock sem firulas, conseguindo climas interessantes com flautas.
Depois, o desastre total. Otto, do Mundo Livre, mostrou novo projeto, que leva seu nome. A banda se apresentou sem nenhum ensaio. Otto mandou uma fita para cada músico alguns dias antes, e todos se juntaram no palco.
O resultado foi horroroso. O público foi camarada com o conterrâneo, em respeito a seus trabalhos anteriores. Se fosse em São Paulo ou no Rio, seria expulso do palco. Não houve música, só barulho.
Zé da Flauta e Paulo Rafael mudaram o rumo da noite esbanjando técnica num show instrumental que mostrou referências de seus trabalhos com Alceu Valença e o Quinteto Violado. Competentes, até esbarraram no progressivo.
Gueto
Duas atrações da noite confirmaram que o rockabilly é mesmo música de gueto, que não segura grandes platéias. Os Baratas Tontas (MG) e os Dead Billies (BA) pularam no palco e capricharam nos topetes, mas o público ficou frio.
Os mineiros do Virna Lisi e os locais do Dona Margarida Pereira & os Fulanos tocaram pesado, mas sem criatividade. Não parecem ter fôlego para ir além do trivial.
Peso e criatividade foi o que não faltou ao Pato Fu, que fez o melhor show da noite (sem contar, lógico, a catarse Max/Nação). Os mineiros sempre soam mais agressivos no palco do que nos discos, mas conseguem manter a beleza e sutileza das melodias, até quando praticamente flertam com o heavy metal.
Toda a banda estava afiada. John e Fernanda mostraram o carisma habitual e ótimas vocalizações. Um show maravilhoso, de uma banda cada vez melhor.
O pernambucano Jorge Cabeleira, com seu forró-metal, e o carioca O Rappa, que mistura rap e rock, mantiveram o pique do público até a aparição de Max.

O jornalista Thales de Menezes viajou a convite da organização do festival.

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