São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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Rabino sabia do suicídio de Levi

DO "CORRIERE DELLA SERA"

"Levi se matou. Anunciou-me poucos minutos antes", disse o rabino de Roma Elio Toaff, diante de 500 estudantes do liceu científico Ettore Majorana e de várias autoridades.
Eles se reuniam para homenagear o aniversário de dez anos da morte do escritor italiano, autor de obras como "É Isto um Homem?" e de "A Trégua".
Desse homem assim especial, que soube nos contar os horrores de Lager sem ódio, Toaff revelou: "Telefonou-me e disse: 'Eu não suporto mais esta vida"'.
Não aguentava mais, continuou Toaff, porque estava esmagado pelo "enorme sofrimento" da mãe doente de câncer.
"Estava transtornado. Ver a mãe naquele estado fazia com que recordasse as atrocidades de Lager. Dez minutos depois, jogou-se do vão da escada de sua casa em Turim."
Na emoção e na solenidade da manifestação, da qual participavam também o presidente do Senado Nicola Mancino, a presidente das Comunidades Hebraicas Italianas Tulia Zevi e o delegado do papa para o diálogo com os hebreus monsenhor Clemente Riva, nenhum fez a Toaff a pergunta que surge: mas por que dizer somente agora?
Certezas Talvez o que tenha empurrado Toaff a falar foram as últimas "certezas" trazidas pela imprensa, que excluem o suicídio. Opiniões expressas por dois amigos do escritor, o médico inglês David Mendel e o sociólogo Franco Ferrarotti.
Agora Toaff rebate tudo. Ele sabia.
Um outro amigo de Primo Levi e o maior estudioso de sua obra, Cesare Segre, disse que não sabia, mas: "Eu sempre acreditei no suicídio".
E lança suas hipóteses: "Sabe-se que Levi estava deprimido. Ele passou a vida tentando dominar os seus sentimentos que poderiam ser de ódio".
Segre recorda quantos sobreviventes de Lager, conhecidos ou não, se mataram: Jean Amery, Paul Celan, Bruno Bettelheim.

Tradução de Anastasia Campanerut

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