São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997 |
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Líder do MST quer manter canal com FHC
CLÓVIS ROSSI
Mas, se depender da opinião de João Pedro Stédile, considerado o principal ideólogo do movimento, a resposta será sim. "Queremos preservar esse canal", diz Stédile, referindo-se ao presidente da República, que ele define como "um senhor respeitável do ponto de vista da elaboração teórica". Mas o sim de Stédile é menos uma questão de respeito ao intelectual FHC e mais a convicção de que "ou está muito mal informado, pelos puxa-sacos que o cercam, ou não tem vontade política" de fazer a reforma agrária. A comissão serviria, na visão do líder do MST, para deixar clara qual das duas possibilidades é a verdadeira. As votações nas direções estaduais ocorrerão entre 6 e 9 de maio, para que a resposta ao presidente seja encaminhada no dia 10. Mesmo que a resposta seja positiva, não significa uma trégua nas invasões de terras. "Se há um monte de desempregados em uma região de latifúndios improdutivos, você acha que o Stédile é quem vai impedir uma ocupação?", pergunta. Stédile acha que o próprio FHC forneceu argumentos para a manutenção das invasões. Primeiro, por ter elogiado a marcha dos sem-terra, "que foi ordeira", e segundo por ter dito, na reprodução de Stédile, que "os acampamentos são positivos". Segundo o líder do MST, FHC disse que sabe que vai "resolver esses casos dos que já estão acampados, mas vão aparecer outros". Ainda assim, o presidente teria considerado os acampamentos "forma eficaz de ação política". Não é, em todo o caso, pelo aval do presidente que o MST manterá a sua tática. "Não nos pautamos nem pela imprensa nem pelo governo", diz Stédile. Guerra de números O ideólogo do MST acredita que o movimento saiu vitorioso do que considera confronto de táticas para a reunião de sexta-feira. Diz que o governo preparou-se para uma audiência prolongada em que anunciaria providências pontuais. "Com isso, nos colocaria na defensiva, tentando demonstrar que o MST quer o paraíso ou nada". Mas o MST preferia -e acha que conseguiu- uma "audiência formal, curta e grossa, para discutir a grande política do governo para a reforma agrária, e não aspectos pontuais", diz Stédile. Curta, a audiência foi (durou 75 minutos). "Grossa" também, a julgar pelo relato do MST. O dirigente disse a FHC que "832 mil pessoas perderam o emprego na agricultura, em consequência da política oficial". Por isso, mesmo que aceitasse como real o número de 102 mil famílias assentadas, significaria apenas "dar com uma mão e tirar com a outra". FHC e Stédile colidiram também na questão da distribuição de renda. O presidente comparou 1996 com 1994, para mostrar que a distribuição de renda melhorara, embora pouco. Stédile preferiu comparar 95/96 com 90, para mostrar o contrário. Texto Anterior: Prefeitura nega ter favorecido empresa do cunhado de Maluf Próximo Texto: Ministro defende a descentralização de medidas Índice |
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