São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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Relâmpago pode iluminar a Vila nesta noite

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É bem capaz que a dupla Muller-Careca se reencontre nesta noite, na Vila, depois de dez anos de separação. E exatamente contra o time que a projetou para o mundo -o São Paulo.
Não sei a quantas anda o futebol de Muller, que atingiu o seu apogeu naquele Palmeiras de Luxemburgo do primeiro semestre de 96. Muito menos o de Careca, certamente avariado pelo uso excessivo e por recentes contusões.
Mas uma coisa não se esquece, nem se perde pela ausência dos gramados -o talento. E ambos são pródigos nisso.
Muller, um aríete naqueles tempos iniciais, virou catapulta, um assistente de primeira, como se diz hoje em dia. Substituiu sua própria velocidade pela velocidade da bola, que imprime com rara eficácia.
Careca, não sei. Mas suponho que tenha completado o ciclo da vida, voltando aos seus primórdios de Guarani, quando, aos 16/17 anos, era um meia-direita habilidoso que, pelas circunstâncias, transformou-se em centroavante goleador. Isso fez de Careca talvez o mais hábil dos nossos artilheiros históricos.
Assim, se um relâmpago iluminar a noite da Vila, num breve instante, pode não ser apenas sinal de chuva. Mas, sim, a centelha de um reencontro mágico, de volta ao futuro.
*
Tem certas regras no futebol que são imutáveis. Uma delas garante que, como futebol é um jogo coletivo, quanto menos mexer no time mais chance se tem de dar certo.
E a história prova isso com milhares de exemplos. Basta verificar que os esquadrões históricos, aqueles que marcaram época, aqui ou lá fora, tinham como característica uma escalação tão permanente que saltavam como perdigotos da língua do torcedor.
Os exemplos mais recentes são o Grêmio, campeão de tudo, e o Palmeiras da era Luxemburgo. Mais recente ainda? Esse Real Madrid líder, em que Fábio Capello só toca para meter Zé Roberto no meio-campo, saindo o centroavante Suker, cujo lugar passa a ser ocupado por Raul.
Em contrapartida, peguem o Milan de Sacchi e o Barcelona desse inglês cujo nome ostensivamente omito, dois elencos milionários. O Milan cai pelas tabelas, enquanto o Barcelona caminha em direção ao nada da vice-liderança numa montanha russa. Pois não há maldito jogo que os treinadores não mexam nas respectivas equipes. E não se limitam a alterar, digamos, um só setor, não. É na defesa, é no meio-campo, é no ataque. Até os goleiros vivem em xeque.
O Barcelona, então, é qualquer coisa de inacreditável. Para ficarmos só na zaga, o técnico dispõe de quatro azes internacionais: os espanhóis Abelardo e Nadal, mais o francês Blanc e o português Couto. Todos jogadores de seleção. Acontece que o inglês não consegue repetir em três partidas sucessivas a mesma combinação de zagueiros.
Ora, desde que a bola começou a dar a sua primeira circunvolução, sabe-se que um time se arma a partir da defesa. Firma-se uma dupla de área, e, pronto, morreu. Resultado: tanto Milan quanto Barcelona, apesar da excelência de seus elencos, são dois sacos de pancadas. É de doer.

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