São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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Araújo chega aos 80 com agenda cheia

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Se o centenário de nascimento de Pixinguinha atrai as atenções do meio musical brasileiro, outro aniversário desta quarta-feira passa quase batido, exceto por uma discreta comemoração num apartamento de Ipanema, no Rio.
O maestro Severino Araújo, líder da Orquestra Tabajara, faz 80 anos. Ele continua dando plantão à frente do conjunto de 23 integrantes. No próximo fim-de-semana, a Tabajara faz apresentações no Alto da Boa Vista (RJ) e em Nova Friburgo. Semana passada ela esteve em São Paulo (Clube Ypê) e Botucatu (interior de SP).
A importância do maestro não se mede propriamente pelos números, superlativos.
Foram, em suas contas, 13.195 bailes, dos quais Araújo diz ter conduzido a orquestra em 13.000 (média superior a quatro apresentações por semana ao longo de 60 anos).
Os discos, ele não contabiliza direito, são "perto de cem". Sua real importância está nos arranjos, originalíssimos, que concebe, desde os anos 30, para temas como "Rhapsody in Blue", de George Gershwin (tem em certos momentos levada de samba), ou "Night and Day", de Cole Porter.
"Nossa orquestra tem a formação das big bands dos anos 30, com cinco saxofones, quatro trompetes e quatro trombones", diz ele.
Araújo cita como referência a big band de Tommy Dorsey, com quem inclusive dividiu o palco da Rádio Tupi, em 51, quando a Tabajara era atração fixa da emissora de Assis Chateaubriand, "paraibano como a Tabajara", diz.
O maestro já levou a Tabajara a todos os Estados brasileiros (menos aos ex-territórios, que ele ainda não encara como Estado). Durante a Segunda Guerra, animou os soldados americanos aquartelados na base de Natal.
Ao longo dos anos, foi incorporando novidades ao repertório. Não gosta de fazer arranjos para temas de novelas, que "dão muito trabalho e o público esquece logo que a novela acaba".
Mas não tem pudor em atender a maior parte dos pedidos. Toca a "Bundinha" e a "Garrafa", como diz, se lhe pedem. Mixa esses hits lúbricos baianos com repertório clássico da canção norte-americana e com algumas composições próprias, como o chorinho "Espinha de Bacalhau".
Engenho Araújo iniciou sua formação musical com o pai, no engenho onde nasceu, em Limoeiro (PE).
O pai, conhecido como Mestre Cazuzinha, conduzia a banda local. Estudou teoria musical e trompa com Cazuzinha. "Não se aprendia piano ou instrumentos de corda porque esse tipo de instrumento não chegava no mato".
Em 36, viajou a João Pessoa (PB) e tornou-se o primeiro clarinetista da banda da Polícia. Em 37, foi contratado pela Rádio Tabajara. Assumiu a Orquestra de Jazz, que existia desde 33: "Acho que é a orquestra de jazz mais antiga do mundo. Se não for, quero ser apresentado à recordista."
O maestro Araújo não tem o nhenhenhém que domina o repertório de ídolos do passado: as lamúrias pelo esquecimento. Diz fazer apresentações para até 5 mil pessoas, como nos bailes de Terceira Idade do Canecão, no Rio (o próximo acontece na segunda-feira, 28).
Ainda melhor que isso, diz ganhar uma quantia considerável ("às vezes R$ 8 mil, às vezes R$ 10 mil, às vezes R$ 12 mil") a cada trimestre em que recebe seus direitos autorais. "Tem arranjo meu tocando no Japão, na Finlândia, na Suécia".
Em junho, deve voltar a estúdio para lançar o quarto disco da série "Anos de Ouro", da gravadora CID. "Deixa tocar mais um pouquinho o número três", conclui.

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