São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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Cannes anuncia lista e aposta em renovação

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Cannes chega aos 50 anos apostando na renovação. É o que se conclui da surpreendente lista com os 27 títulos da seleção oficial anunciada ontem. A 50ª edição do principal festival de cinema do mundo será aberta em 7 de maio por "O Quinto Elemento", de Luc Besson, indo até o dia 18.
São 20 concorrentes à Palma de Ouro e sete filmes "hors concours". Nenhum brasileiro. Com metade dos selecionados, a Europa domina a competição. Hollywood mais uma vez tem presença discreta.
Nada de "O Mundo Perdido", de Steven Spielberg, em lançamento mundial. Nenhum grande realizador na disputa. O nome mais forte é o de Clint Eastwood, que estrela e dirige o filme de encerramento, "Absolute Power", um thriller político recebido com ressalvas nos EUA.
Resultado: os novos atores-diretores roubam a cena. São Nick Cassavetes ("Call It Love"), Johnny Depp ("The Brave"), Gary Oldman ("Nil By Mouth"). A França também tem o seu: Matthieu Kassovitz, consagrado em Cannes-95 com "O Ódio", volta agora com "Assassins".
A representação asiática é, relativamente, a mais forte. Quatro filmes, quatro pesos pesados. O veterano japonês Shohei Imamura, 71, vencedor da Palma de Ouro em 1983 com "A Balada de Narayama", volta à competição com "Unagi". O chinês Zhang Yimou, depois da separação de Gong Li, tenta a sorte mais uma vez com "Keep Cool".
O chinês de Taiwan Ang Lee, já com dois Ursos de Ouro de Berlim na prateleira, luta por sua primeira Palma com "The Ice Storm". Por fim, Wong Kar-Wai ("Amores Expressos") aposta em "Happy Together" para provar que a escola de Hong Kong ainda tem muito a dar, mesmo nessa turbulenta era da transição anglo-chinesa.
Favoritos? Nunca foi tão difícil arriscar. Os dois outros detentores da Palma de Ouro que concorrem neste ano não estão exatamente em momentos fortes de suas carreiras. O italiano Francesco Rosi, que com "O Caso Mattei" dividiu o triunfo de 1973 com "A Classe Operária Vai ao Paraíso", de Elio Petri, apresenta desta vez "La Tregua". O alemão Wim Wenders, ganhador em 1984 com "Paris, Texas", leva a Cannes mais um sermão pacifista, agora com selo americano de produção: "The End of Violence".
Os novos filmes dos dois outros veteranos, Marco Bellocchio e Idrissa Ouedraogo, desembarcam na Croisette já sob suspeita. As reações iniciais a, respectivamente, "O Príncipe de Hamburgo" e "Kini e Adams" não foram exatamente eufóricas. O primeiro foi barrado da primeira lista de concorrentes de Berlim-97, incluído na repescagem e retirado por protesto dos produtores.
O segundo é um caso à parte. Marca uma guinada geopolítica importante. É uma rara co-produção afro-britânica assinada por um renomado cineasta tradicionalmente ligado ao cinema africano francofônico. Contudo, a fábula de dois amigos que sonham com a cidade grande foi recebido com frieza no último festival de Ouagadougou (Fespaco).
Vale apostar em três das principais revelações dos anos 90. Dois são poetas da incomunicabilidade e do acaso: o austríaco Michael Hanecke, que concorre com "Funny Games", e o canadense Atom Egoyam, que retorna a Cannes com "The Sweet Hereafter".
Já o britânico Michael Winterbottom tem sua grande chance com "Welcome to Sarajevo", em que um jornalista se envolve com um orfanato em perigo.

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