São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
Próximo Texto | Índice

Invasão militar liberta reféns depois de 126 dias de crise no Peru

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Policiais e militares peruanos invadiram às 15h30 de ontem (17h30 em Brasília) a residência do embaixador japonês em Lima e libertaram os reféns mantidos por guerrilheiros havia 126 dias.
A operação realizada por mais de 80 militares durou aproximadamente 40 minutos e terminou com a morte de 1 refém, o juiz da Suprema Corte peruana Carlos Giusti Acuña, de pelo menos 1 militar e de todos os 15 guerrilheiros, segundo um rádio local. Há pelo menos cinco reféns feridos.
O presidente Alberto Fujimori disse que todos os reféns foram soltos "sãos e salvos".
Entre os feridos, está o ministro peruano de Relações exteriores, Francisco Tudela, que foi baleado na perna.
Havia 72 reféns nas mãos dos guerrilheiros da organização esquerdista MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru).
O líder dos guerrilheiros, Néstor Cerpa Cartolini, era o segundo da organização, atrás de Víctor Polay Campos, o fundador do grupo.
Entre os reféns libertados estão dois ministros peruanos, os embaixadores do Japão e da Bolívia, outros 23 cidadãos japoneses e vários peruanos, entre eles Pedro, irmão do presidente Fujimori.
O embaixador boliviano, Jorge Gumucio, disse que os reféns tinham sido avisados de antemão que haveria a intervenção militar. Ele não quis dizer como tiveram acesso à informação.
Após a libertação, os reféns foram levados de ônibus para hospitais militares, onde seriam submetidos a exames médicos.
O presidente Alberto Fujimori permaneceu nas proximidades da embaixada durante toda a operação de resgate.
Após libertação dos reféns, utilizando um colete a prova de balas, ele participou de uma rápida cerimônia no terreno da casa do embaixador. De cima de uma cadeira, o presidente discursou para 200 militares e cerca de 40 reféns.
A seguir, ele cumprimentou todos os reféns e os acompanhou até o hospital.
Num hospital militar, uma testemunha disse que o governo não teve alternativa: "Estamos aqui para aplaudir os reféns e a polícia pela sua bravura", afirmou Edith González.
Já Nancy Domínguez, 53, irmã de um refém, disse não saber "se o ataque era necessário".
O primeiro-ministro do Japão, Ryutaro Hashimoto, afirmou em Tóquio que seu governo não foi consultado sobre a invasão da residência, tecnicamente território japonês. Hashimoto agradeceu ao governo Fujimori pela operação.
Durante e depois da operação, várias explosões de origem desconhecida ocorreram dentro da casa do embaixador japonês.
Elas poderiam ser causadas por granadas lançadas pelos militares ou pela detonação de minas e armadilhas explosivas espalhadas no prédio pelos guerrilheiros, que ameaçavam explodir a residência e matar todos os reféns no caso de uma tentativa de resgate.
A residência havia sido invadida pelos guerrilheiros do MRTA no dia 17 de dezembro, durante uma festa pelo aniversário do imperador japonês, Akihito.
No início, foram feitos mais de 400 reféns, entre eles vários embaixadores. Nos dias seguintes, a maioria, entre eles o embaixador brasileiro Carlos Luiz Coutinho Perez, foi solta.
Os guerrilheiros exigiam a libertação de cerca de 400 integrantes do MRTA presos no Peru e em outros países.
Os guerrilheiros e o governo iniciaram em 11 de fevereiro negociações por intermédio de uma comissão composta pelo representante da Cruz Vermelha Internacional, Michael Minnig, o embaixador do Canadá, Anthony Vincent, e o bispo Juan Luis Cipriani.
A negociação entre o governo e o MRTA havia sido praticamente interrompida no dia 12 de março, aparentemente por causa da inflexibilidade dos guerrilheiros.
Em entrevista à rede de televisão CNN, Isaac Velazco, porta-voz do MRTA, disse que a guerrilha vai continuar a luta contra "o terrorismo de Estado" no Peru.
Para Velazco, a guerrilha não ganhou nem perdeu com o resultado do sequestro.
O sequestro de Lima é a segunda tomada de reféns em embaixada mais longa, atrás apenas da ocupação da embaixada dos EUA em Teerã (Irã), que durou 444 dias.

LEIA MAIS sobre o final da crise dos reféns às páginas seguintes

Próximo Texto: Premiê diz que soube por último
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.