São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líder da tomada da casa começou no sindicalismo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O líder do MRTA na ação da tomada da casa do embaixador japonês em Lima, Néstor Cerpa Cartolini, morreu durante a invasão das forças de segurança do Peru, informou uma rádio local.
Cerpa, 48, conhecido como "comandante Evaristo", foi dirigente sindical antes de ingressar na luta armada no país.
Em 1979, dirigiu a tomada de uma fábrica têxtil, a Cromotex, da qual era empregado para exigir melhores salários e melhores condições de trabalho.
A ocupação terminou de forma violenta e quatro trabalhadores foram mortos. Cerpa ficou preso até a metade de 1980. Foi a única vez em que esteve detido.
Após a prisão e a morte dos operários Cerpa radicalizou sua posição e fundou com Victor Polay Campos, o "comandante Rolando", o Movimento Revolucionário Tupac Amaru em 1984.
Cerpa era o segundo homem da organização, logo abaixo de Polay, que está preso desde abril de 1992.
No início das operações do MRTA, Cerpa foi designado por Polay como chefe da frente noroeste, com sede no Departamento de San Martín. Nessa região, realizou a tomada das cidades de Juanjuí, Lamas, Soritor e Yurimaguas.
Durante os últimos anos, o serviço secreto peruano caçou incessantemente o "comandante Evaristo". Sua habilidade para ludibriar as forças de segurança e a escassa informação sobre seu paradeiro tornaram-no uma figura lendária. Por diversas vezes foi dado como morto em combate.
Cerpa havia sido visto pela última vez em um vídeo difundido pelas emissoras de televisão em 4 de fevereiro de 1996, meses depois de o número dois do MRTA, Miguel Rincón Rincón, ter sido detido quando preparava a tomada do Congresso peruano, impedida pelas forças de segurança.
Nessa oportunidade disse frente às câmeras que o MRTA assumia como um "direito" libertar seus companheiros presos e assegurou que outras ações seriam realizadas para atingir seu objetivo.
Uma das exigências do comando que tomou a casa do embaixador japonês em Lima era a libertação dos presos do MRTA, cerca de 500.
O discurso difundido por Cerpa no vídeo de 1992 parece ter ecoado ontem nas palavras de Isaac Velazco, porta-voz internacional do grupo Tupac Amaru.
"A guerra não é contra um presidente, mas contra um sistema brutal, e vai continuar", disse em Hamburgo, norte da Alemanha.
Velazco afirmou que conversou com os membros do MRTA que estavam na casa em Lima pouco antes da ação. O comando guerrilheiro disse que "havia um aparente avanço no processo de negociação (com o governo) e uma decisão pacífica seria tomada logo".
Segundo Velazco, quem perde com a derrota do MRTA não é o movimento, mas os peruanos. "Foi perdida a possibilidade de construir um processo de reforma política. Lamentavelmente, com essa intervenção militar, a guerra interna em meu país se agravará."

Texto Anterior: Premiê diz que soube por último
Próximo Texto: A casa do embaixador
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.