São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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Tempo agiu a favor dos militares no planejamento

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O ataque dos militares peruanos à embaixada japonesa tem tudo para se tornar mais um clássico dessa área relativamente nova e altamente especializada das operações militares, as chamadas "operações especiais".
O episódio deixa claro que existe hoje um descompasso tecnológico e tático entre as forças guerrilheiras, ou grupos ditos "terroristas", e as forças governamentais em boa parte do mundo.
O longo período de espera -cerca de quatro meses- contou a favor das forças atacantes.
Um dos princípios básicos de qualquer operação militar é tentar saber em detalhe as disposições e, se possível, as intenções de seu inimigo.
Durante quatro meses, os militares peruanos puderam planejar esse ataque.
Provavelmente fizeram simulações utilizando uma réplica da residência. O tempo permitiu que conhecessem cada detalhe da embaixada e que o ataque a cada aposento fosse planejado com precisão.
Entre as armas utilizadas estão as chamadas "stun grenades", granadas que em vez de matar com estilhaços criam um clarão fortíssimo que paralisa por vários segundos qualquer pessoa. É nesses segundos vitais que age a força atacante, localizando cada guerrilheiro e atirando para matar.
Os pioneiros desse tipo de operação são forças do Primeiro Mundo, como o SAS (Special Air Service, Serviço Aéreo Especial) e o SBS (Special Boat Service, Serviço Especial de Barcos) britânicos, ou os Rangers do Exército americano, ou o GSG-9 alemão.
A tropa brasileira equivalente é o Batalhão Tonelero, dos Fuzileiros Navais. Força Aérea e Exército também têm pessoal treinado para esse tipo de resgate.
O ataque peruano se junta agora ao rol de operações semelhantes bem-sucedidas, como, por exemplo, a ação do SAS contra a embaixada iraniana ocupada por terroristas em Londres.
Os israelenses agiram de modo igualmente eficaz em Uganda para libertar um avião de passageiros sequestrado, assim como os alemães em Mogadício (Somália).
Tropas especiais são treinadas para resgates e operações de ataque perigosas, que exijam não só condicionamento físico acima da média, como também o domínio de técnicas exóticas de matar. Essa tecnologia toda de Primeiro Mundo está disponível, por meio de cursos e de assessores militares, aos países considerados aliados.
Com sensores especiais infravermelhos, que medem o calor, é possível checar a posição de cada pessoa dentro da residência.
Some-se a isso microfones especiais, e a localização e -dado o longo tempo de espera- os hábitos de cada guerrilheiro podem ser calculados.
Um ataque como esse é cronometrado em segundos. Cada soldado atacante tem uma missão específica, que deve cumprir em um tempo rigidamente cronometrado.

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