São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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Crise derrubou popularidade de Fujimori

DA REDAÇÃO; DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os guerrilheiros do Movimento Revolucionário Tupac Amaru podem não ter conseguido suas reivindicações, mas, com a ação encerrada ontem, ajudaram a derrubar a popularidade do presidente Alberto Fujimori, que chegou ao segundo ponto mais baixo de seu governo.
Ainda não é claro qual a repercussão política que a ação militar na casa pode ter a partir de agora, mas ontem Fujimori tentou, desde o primeiro momento, se mostrar como o responsável direto por ela.
Logo após o final da operação de ontem, ele entrou na casa do embaixador e fez um discurso para soldados e reféns.
Sem paletó e com um colete à prova de balas, Fujimori acompanhou reféns até o hospital e cumprimentou todos -alguns com um forte abraço. Ele acompanhou a ação militar de uma casa da vizinhança.
O prolongamento da crise já começava a causar estragos no governo Fujimori, que antes do sequestro se dedicava a tentar uma nova reeleição. Ele foi eleito em 1990 e assumiu o segundo mandato em 1995.
Pesquisa do Instituto Analistas y Consultores, divulgada no último domingo em Lima, mostra que apenas 35% dos peruanos ainda apóiam seu presidente.
Em março, Fujimori ainda tinha 42,5% de aprovação. Ao mesmo tempo, a desaprovação ao governo dele subiu de 44,3% para 52%.
Outro instituto, Imasen, divulgou pesquisa com dados semelhantes e anunciou que Fujimori passa por seu segundo pior momento no governo -o pior fora em dezembro do ano passado.
No último final de semana, Fujimori substituiu o ministro do Interior, Juan Briones, pelo general César Saucedo. Briones saiu admitindo que seu ministério falhara ao permitir o sequestro.
Também as negociações conduzidas pelo governo se mostraram infrutíferas. Na véspera da resolução da crise, o representante da Igreja Católica na negociação, o arcebispo Juan Luis Cipriani, disse que não saberia quanto tempo mais sua saúde permitiria que continuasse tentando uma solução. "É muita tensão e sofrimento."
A saúde -não dos mediadores, mas dos reféns- foi justamente o ponto que mais preocupou o governo e os negociadores. Entre os sequestrados, vários sofriam de doenças crônicas e precisavam de cuidados médicos constantes.
Nesta semana, os guerrilheiros restringiram a um dia por semana a visita do médico que acompanhava os reféns. Era uma tentativa de fazer o governo ceder.
Participação japonesa
Em todo o tempo, Fujimori demonstrou preocupação em consultar o Japão sobre o desenrolar da crise. A saída militar, afinal adotada, foi desaconselhada várias vezes pelo primeiro-ministro japonês, Ryutaro Hashimoto.
A mediação japonesa ajudou, por exemplo, que o governo cubano aceitasse a receber os guerrilheiros após um eventual final pacífico da crise. Uma visita-surpresa de Fujimori a Havana selou o pacto com Fidel Castro.
O embaixador canadense, Anthony Vincent, e a Cruz Vermelha também colaboraram com a negociação fracassada.
O embaixador brasileiro em Lima, Carlos Luiz Coutinho Perez, também estava no primeiro grupo de sequestrados. Libertado dias depois, voltou ao Brasil e recebeu críticas por não ter se oferecido para ajudar a mediar a crise. Perez afirmou depois que seguiu ordens do governo. "Não foi uma fuga."

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