São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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DESFECHO EM LIMA

O fim da crise dos reféns na casa do embaixador do Japão em Lima (Peru) é um desses episódios tão carregados de emoções que torna precárias avaliações imediatistas em termos de quem ganhou e quem perdeu.
À primeira vista, ganhou, claro, o presidente peruano, Alberto Fujimori. Pela ação militar, ele conseguiu a libertação dos reféns. Dada a situação, as baixas foram mínimas.
Mas esse é um êxito que precisa ser matizado. A festa final, em que Fujimori discursou para o comando de elite que invadiu a casa do embaixador, lembrava mais um comandante militar do que um líder civil. Se se lembrar que o mesmo Fujimori já havia caído em tentações autoritárias, ao fechar o Congresso em seu primeiro mandato, cabe temer um recrudescimento dessa tendência.
Além desse aspecto político-institucional, será preciso ainda estabelecer com maior clareza como morreram os membros do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) que praticaram o sequestro. Se foram mortos resistindo à invasão, pagaram o preço pela escolha de um caminho condenável.
Nunca é demais repetir que a violência, a via escolhida pelos sequestradores, só cabe, pelas normas do Direito internacional, em situações de "tirania insuportável", o que, claramente, não é o caso do Peru de hoje. Mas é possível que tenham sido fuzilados, como já aconteceu em momentos anteriores da luta contra a guerrilha. Tanto quanto a violência terrorista, é preciso repudiar o que seria, comprovada essa hipótese, o terrorismo de Estado.
A derrota do MRTA é também emblemática do isolamento em que caiu o extremismo de esquerda na América Latina. Cerca de quatro meses de posse de um poderoso instrumento de propaganda política não foram suficientes para atrair a solidariedade nem entre a maioria dos peruanos nem em outros países.
Que as mortes dos militantes do MRTA sejam as últimas a ocorrer em nome de uma vanguarda revolucionária que não tem, claramente, a menor retaguarda popular.

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