São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Oficiais são denunciados por fraude

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

A Procuradoria Geral do Pará anunciou ontem que existem 59 oficiais da PM do Estado envolvidos no escândalo de pensões alimentícias fraudulentas denunciadas pelo Ministério Público.
Anteontem, 15 coronéis que criaram descontos nos próprios salários por meio de pensões irregulares foram denunciados por estelionato na auditoria militar. A pena prevista varia de dois a sete anos de prisão.
Segundo a denúncia do promotor Gilberto Valente, os coronéis criaram descontos artificiais por meio de pensões alimentícias que variam de 30% a 60% dos salários. Os beneficiários de tais pensões são os próprios filhos e mulheres dos oficiais.
Ainda segundo a denúncia, rebaixando artificialmente os vencimentos, os oficiais escaparam do redutor constitucional que incide nos salários acima do teto do funcionalismo. No Pará, o teto é o salário de secretário de Estado: R$ 4.344,19.
O esquema vem funcionando desde junho de 1995, quando foram publicadas as primeiras pensões no Boletim Geral da PM.
Com esse artifício, alguns coronéis e respectivas mulheres passaram a receber juntos mais de R$ 6.500. Um cabo da PM do Pará ganha R$ 342 mensais.
"Nem 10% dos envolvidos se separaram judicialmente. Mesmo os separados teriam pensões descontadas sobre os salários líquidos e não por meio dessa fraude", disse o promotor Valente.
"Legal e moral"
"Não há imoralidade alguma. O acordo de pensão está dentro da lei. Acho a pensão legal e moral", disse o coronel Cleto Fonseca, um dos denunciados por estelionato.
Fonseca é vereador pelo PMDB e foi comandante-geral da PM de 1991 a 1994.
Até junho de 1995, dos R$ 7.196,66 de salário bruto, Fonseca recebia R$ 4.142,59 líquidos e tinha descontados R$ 2.035,10 pelo redutor constitucional.
Em julho daquele ano, ele autorizou uma pensão para a mulher, Rosa, que passou a receber R$ 3.595. Com o desconto da pensão, Fonseca passou a ganhar R$ 3.000 e não foi mais atingido pelo redutor constitucional.
O comandante-geral da PM, coronel Fabiano Lopes, não quis comentar as pensões. Ele disse que a iniciativa é respaldada por um parecer de 1995 da Consultoria Geral do Estado. "Cabe a mim apenas cumprir administrativamente um pedido do servidor", disse ele.
"Usaram meu primeiro parecer de forma maquiavélica", disse o consultor-geral, Ophir Cavalcante. Segundo o parecer, "o servidor pode dispor livremente de seus salários e pode instituir pensão alimentícia a favor de quem quiser".

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