São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

1º réu de Vigário Geral diz que é inocente

DA SUCURSAL DO RIO

O ex-policial militar Paulo Roberto Alvarenga disse ontem no 2º Tribunal do Júri do Rio que não tem "índole de matar" e que é inocente da acusação de envolvimento na chacina de 21 moradores da favela de Vigário Geral (zona norte).
Alvarenga, 38, é o primeiro dos 51 réus do processo a ir a júri. O julgamento dele começou ontem às 14h20 e só deve terminar amanhã.
O acusado disse que dormia em casa no momento da chacina. Aos sete jurados e ao juiz José Geraldo Antônio, ele afirmou ter considerado a chacina -ocorrida na madrugada de 30 de janeiro de 1993- "uma barbaridade".
Alvarenga disse que, em 12 anos como soldado da PM (Polícia Militar), nunca faltou ao serviço e jamais se envolveu em mortes.
"Nunca tive índole de matar. Nunca matei ninguém. Nunca tive um auto de resistência", afirmou durante o interrogatório, que durou 90 minutos. Auto de resistência é o documento firmado quando alguém morre em suposto confronto com policiais.
O nome de Alvarenga surgiu no processo a partir do depoimento do ex-informante policial Ivan Custódio Barbosa de Lima, principal testemunha do caso.
Alvarenga creditou a acusação "simplesmente ao fato de ser policial militar". Segundo ele, os investigadores da chacina procuraram incriminar de 30 a 50 PMs.
"Logo após a chacina, o Nilo Batista (ex-governador) e o coronel (Magno) Cerqueira (ex-comandante da PM) falaram que tinham sido PMs. Algum PM ia ter que entrar. Eu entrei por isso", afirmou.
Alvarenga disse ao juiz que não aceitou participar de uma espécie de complô para acusar outros PMs pelas mortes em Vigário Geral.
O complô lhe teria sido proposto por outro acusado, o ex-PM Sérgio Borges, espécie de porta-voz de parte dos réus do processo.
"Disse ao Borjão (apelido de Borges) que não aceitaria. Ele disse que quem não estivesse com ele estaria contra ele", disse.
Borges gravou conversas na cadeia entre ex-PMs presos. Nas conversas gravadas, há comentários sobre os supostos autores da matança. Alvarenga é citado.
Os advogados de Alvarenga, André Ribeiro e Rodrigo Roco, afirmam que as gravações foram forjadas. Dizem também que a testemunha-chave do processo mente.
"Várias coisas que o Ivan Custódio diz foram desmentidas no processo", afirmou Roca.
A Folha tentou ontem falar com Borges ou com seu advogado, mas eles não foram localizados.
O promotor Márcio Chut disse o contrário. "O Ivan pode falhar em alguma coisa, mas muito do que falou foi comprovado", disse.

Texto Anterior: Oficiais são denunciados por fraude
Próximo Texto: Família é ameaçada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.