São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Temos um negócio, não jogo, diz Koff

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Fábio André Koff, presidente do Clube dos 13, defende que os clubes fiquem com parte do dinheiro que a Nike e a Coca-Cola pagam à CBF. "Se não me engano, essa é uma exigência legal, da Lei Zico."
Koff tornou-se a primeira pessoa que não é dirigente de clube a presidir o Clube dos 13 por seu sucesso na direção do Grêmio, entre 92 e 96. Hoje, quer aumentar as atividades e o poder da associação e torná-la o embrião da liga.
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Folha - No Brasileiro-96, o Fluminense foi rebaixado. Essa é uma exceção ou os clubes do Brasil estão piorando?
Koff - Os clubes estão numa situação de crescente penúria e apequenamento flagrante. Os jogos já não atraem tanto público. Mas acho que a situação vai melhorar.
Folha - Por quê?
Koff - Neste ano, o Corinthians conseguiu uma importante parceria. Outros clubes, sem esse poder de investimento, não estão gastando além de suas possibilidades financeiras. Isso é o correto.
Folha - Há outros sinais?
Koff - Neste ano, o contrato de TV foi feito de maneira aberta. Antes era a CBF que negociava e negociava mal. Os clubes assumiram um direito que é deles.
Folha - Mas os 12 clubes da Série A que não estão no Clube dos 13 criticam o acordo...
Koff - O contrato da TV é com o Clube dos 13, não com todos. Como nós esperamos formar uma associação unificada em médio prazo, o contrato é de três anos e não de cinco, como queriam as TVs. Ainda iremos negociar com os demais clubes.
Folha - Não seria melhor investir já na criação de uma liga única?
Koff - Primeiro deve-se definir o tamanho de cada divisão. A idéia aprovada, que é minha, prevê em 1999 duas divisões com 20 clubes. Ambas serão fortes. Se conseguirmos fazer isso com a terceira, o Brasil pode ter 60 clubes grandes. Hoje em dia, mais que o receio de descer, há o medo de nunca mais subir. É preciso dar condições para os clubes pequenos crescerem.
Folha - O sr. defende que o caminho seja uma liga com executivos profissionais, como na NBA?
Koff - Acho que sim. E estou ganhando espaço. Minha tendência é profissionalizar o Clube dos 13.
Folha - Qual é a filosofia que o sr. quer implantar nele?
Koff - Um dos grandes negócios do mundo é o entretenimento, da qual o futebol faz parte. Até bem pouco tempo, os dirigentes não sabiam explorar esse mercado. E não sabíamos porque a nossa mercadoria não era boa. Agora, há consciência de que o futebol não é um jogo de bola, mas um negócio.
Folha - Como isso se estende ao clube?
Koff - Ele precisa se adaptar. Ou vira uma sociedade comercial ou é administrado de modo empresarial. No Grêmio, eu optei, por um período transitório, por profissionalizar a administração.
Folha - Qual é o papel dos dirigentes amadores?
Koff - O presidente e os vices exercem o poder político. Mas todas as direções estão entregues a executivos contratados no mercado de trabalho, aos quais o Grêmio paga acima do teto do governo gaúcho.
Folha - Como está o Grêmio?
Koff - Em relação a quatro anos atrás, quando assumi a direção, é invejável. Temos 30 mil sócios pagantes, sete executivos profissionais, seis superintendentes e um diretor. Como os salários são elevados, pode-se contratar bons profissionais.
Folha - Mas ainda há dirigentes que tendem a não respeitar acordos de clubes. Como o Clube dos 13 enfrenta isso?
Koff - Esses dirigentes existem, mas estão perdendo espaço. Vai desaparecer o dirigente mais preocupado com o seu futuro político do que com o do clube, aquele que após uma derrota contrata um jogador só para agradar a torcida.
Folha - Qual é o impacto que fatos como as últimas invasões de campo e agressões a torcedores provocam na imagem do futebol?
Koff - Isso é péssimo em todos os sentidos. O futebol depende da credibilidade junto ao torcedor. Se a torcida chega ao ponto de gritar "marmelada", é que ela deixou de acreditar na disputa. Ela não volta. Não há por que ir ao futebol se já se sabe quem vai ganhar. Nesse processo, perdem o clube que ganhou e seu dirigente. Isso não pode acontecer.
Folha - O que mais pode ser feito?
Koff - É preciso reformar logo os estádios e os gramados. Melhorar os campos é fácil. O Estado de São Paulo mostrou isso neste ano. Os estádios têm que ser vistos como casas de espetáculos. Quem vai tem que ter conforto. Na Inglaterra, à medida que foram melhorados, o público foi aumentando. Hoje, as partidas têm lotação total. As crianças levam os pais.
Folha - Existem clubes demais no Brasil?
Koff - Sim. Houve até uma perda no sentido de rivalidade que existia entre as cidades. Quando havia um time por cidade, as pessoas se engajavam mais no futebol. Em Pelotas (RS), onde há três clubes, se houvesse um, a cidade se uniria em torno dele.
Folha - O Pelé disse que pretende, no projeto de lei, separar o futebol dos demais esportes. Na Lei Zico, a separação é entre amadorismo e profissionalismo. O que o sr. prefere?
Koff - Acho que o Pelé se preocupa demais com o futebol. A intervenção do poder público não tem sentido. A própria Constituição dá autonomia. Por exemplo, na questão dos clubes-empresa. A lei atual torna isso uma faculdade. Por que ele quer tornar obrigatório? Ele não tem nada com isso. Por que ele não se mete com os clubes de vôlei e basquete, que estão em pior situação?
Folha - O que o sr. acha da proposta de se fecharem os bingos?
Koff - Não vejo nada de bom neles para o esporte.
Folha - Se o sr. é contra a intervenção do Estado no esporte, não acha então que o passe deveria ser retirado da lei?
Koff - Eu era conselheiro do CND, quando se regulamentou o passe, nos anos 70. Aquilo era uma lei provisória, para ser aperfeiçoada. A tendência é o passe livre. Mas o clube deve ter o direito à indenização quando o jogador vai para o exterior. Além disso, é preciso dar um tempo de acomodação. Hoje em dia, a maior parte dos patrimônio de muitos dos clubes são os passes. Não se deve enfraquecê-los, mas o contrário.
Folha - O contrato com a Nike rende R$ 40 milhões/ano à CBF. O novo contrato com a Coca-Cola deve render outros R$ 20 milhões/ano. O sr. defende que os clubes reivindiquem uma parte desse bolo?
Koff - Sim. Se não me engano, a Lei Zico prevê isso. Não tem sentido a CBF ficar cada vez mais rica e os clubes, mais pobres.
Mas também aqui há culpa dos clubes. Se eles não participam disso é porque não reivindicam. À medida em que a relação entre os clubes se fortalecer, a relação deles com a CBF vai melhorar.

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