São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997 |
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Vida do artista continua à espera de um biógrafo
CARLOS HEITOR CONY
Tirante os primeiros capítulos, quando Chaplin relembra a infância miserável nas ruas de Londres, e que, tal como em alguns de seus filmes, têm um clima de Dickens, o restante forma um amontoado narcisista, banal, em alguns trechos cabotino. O menino pobre de Kennington e, pior ainda, de Lambeth, tornou-se um deslumbrado. Bem verdade que ele sempre aproveitou os cenários de infância, aquelas casas de tijolos à mostra, encardidos e lúgubres, que o século 19 inglês fabricava em série. Estão elas em quase todos os seus filmes da Keystone, da Essanay e principalmente da Mutual, sua melhor fase, com 12 obras-primas que nem mesmo os longa-metragens da United Artist superariam. Entre a Mutual e a United, houve a First National, que lançou oito médias-metragens, talvez o núcleo principal de sua obra. A partir dela, Chaplin foi chamado de gênio e considerado por alguns como o maior artista do século. Foi comparado a Shakespeare e a Cervantes por ensaístas de peso, como Elie Faure e James Agee, Umberto Barbaro e John Grierson. Foi inocentado por poetas como Aragon, Maiacovski, Rafael Alberti e Carlos Drummond de Andrade. Foi, acima de tudo, a referência principal para cineastas como René Clair, De Sica, Fellini, Renoir e Tati. Mas sua biografia ainda é um buraco negro. Em todos os momentos marcou-se como um antifascista, criticou o nazismo numa época em que os Estados Unidos ainda estavam em cima do muro. Isso lhe valeu a suspeita de ser comunista, um equívoco que até hoje não se desmanchou. A tumultuada carreira sexual, a estranha esperteza comercial (na véspera do crack de 1929, retirou todos os seus papéis da Bolsa de Nova York), o complicado relacionamento com os filhos e colegas de trabalho formam a matéria que permanece à espera de um grande biógrafo. Texto Anterior: Biografia louva e desdenha Charles Chaplin Próximo Texto: Novos cineastas querem mudar o foco Índice |
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