São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Militar pode ter matado refém na casa

DO ENVIADO ESPECIAL

O único refém morto na invasão à casa do embaixador Morihisa Aoki pode ter sido atingido por um militar. A nova versão para a morte de Carlos Giusti Acuña foi apurada pela Folha junto a um grupo de ex-reféns que foi ao velório do juiz da Corte Suprema, ontem, em Lima.
Ela vem se somar a outras versões, que dão conta desde a execução sumária dos 14 terroristas até a tentativa dos sequestradores do MRTA de matar reféns feita após o começo da ação.
Segundo essa nova versão, todos os reféns sabiam que era preciso ficar deitado no chão durante o ataque. As ordens foram passadas por meio de mensagens escondidas nas roupas e nos alimentos entregue aos reféns.
Ainda segundo os reféns ouvidos, o juiz Giusti foi o único a se esconder em um armário no quarto onde estava com outros magistrados e políticos.
Esse quarto fica no segundo andar, ao lado do cômodo reservado a ministros e embaixadores.
Um dos 140 militares que participaram da operação de resgate teria entrado no quarto e dado uma rajada de metralhadora a meia altura, para acertar eventuais terroristas. Não havia nenhum.
Os reféns não se feriram porque estava no chão, mas Giusti levou o tiro na perna e rompeu a artéria femoral. Ontem, o Colégio dos Advogados de Lima pediu à Justiça civil a investigação da morte do juiz.
Para Vladimir Paz de la Barra, o decano do CAL, o magistrado poderia ter sido socorrido. "Ele era um opositor da forma pela qual Alberto Fujimori invade o espaço do Judiciário. Giusti levou um tiro na artéria femoral e morreu devido à hemorragia. Não seria possível estancar o sangramento?"
Segundo a Folha apurou, o pedido, na verdade, tenta esclarecer na Corte Suprema como o refém morreu. As chances de isso ser averiguado na Justiça comum são mínimas. O presidente Alberto Fujimori disse ontem que toda a apuração é de responsabilidade da Justiça Militar.
Também segundo os ex-reféns, o sinal para a invasão foi dado de dentro da casa. Um dos chefes militares feitos reféns pelo MRTA havia recebido um microtransmissor durante visita de médicos à residência ocupada.
Após ouvir marcha militar às 15h17 de terça-feira (17h17 em Brasília), ele teria esperado seis minutos e dado o sinal verde para a ação, informando que os reféns já estavam prontos para a invasão.
Carreira
O juiz Giusti Acuña foi presidente do órgão de controle interno da magistratura e por duas vezes disputou a presidência da Corte Suprema peruana.
Eles estava entre os juízes daquele tribunal que se opõem às posições do governo em vários processos judiciais e teve uma atuação contrária ao grupo paramilitar Colina, que é acusado de diversos crimes supostamente ordenados pelo serviço secreto peruano.
O corpo do juiz foi sepultado ontem, após uma cerimônia do Palácio de Justiça. A família dele recebera os pêsames de Fujimori na noite de anteontem. O presidente da Suprema Corte, Victor Castillo, declarou luto judicial, suspendendo as audiências dos tribunais.
Também ontem foram liberados os corpos dos principais guerrilheiros que participaram do sequestro. Rosa Cartolini, tia de Néstor Cerpa Cartolini, o líder do sequestro, assinou documento recebendo o corpo. O mesmo foi feito por María Fernández em relação a seu filho, Roli Rojas Fernández, segundo homem do grupo de 14.

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