São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997
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Crises bancárias

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Os problemas que acometeram os bancos Econômico, Nacional, Bamerindus, Banco do Brasil e outros causam preocupação tanto pelos riscos aos depositantes quanto aos contribuintes porque a gestão temerária de um banco, via de regra, acaba virando custo para toda a sociedade. De 1980 para cá, mais de dez países passaram por crises bancárias que custaram aos cofres públicos mais de 10% do PIB.
Os principais fatores que levam a crises bancárias são conhecidos: instabilidade macroeconômica, empréstimos internos irregulares a empresas coligadas ao grupo financeiro, intervenção governamental que estimule empréstimos políticos e a juros subsidiados, liberalização financeira apressada com baixa capacidade regulatória doméstica e padrões contábeis frouxos.
Analisando-se os problemas bancários recentes do Brasil, verifica-se que só uma parte deve-se à estabilização dos preços, posto que os bancos costumavam ganhar dinheiro com a inflação. Mas outra parte deve-se a padrões contábeis muito tolerantes que permitiram ao Econômico e ao Nacional, por exemplo, esconderem empréstimos fraudulentos ou irrecuperáveis em seus balanços.
Por fim, a fiscalização do Banco Central também se mostrou muito aquém da expectativa, como ilustram tanto os problemas com os bancos como os revelados pela CPI dos títulos públicos. Pelo que ficou conhecido, o BC limita-se a acompanhar o balanço e o pagamento dos tributos contabilizados, mas não faz uma fiscalização patrimonial mais profunda.
Olhando para a frente, há os fatores que ainda podem vir a causar problemas bancários. O padrão contábil segue sendo muito tolerante e seria recomendável adotar definições mais rígidas sobre os empréstimos de difícil recuperação.
A política de juros altos é outra fonte de instabilidade porque acaba enfraquecendo a capacidade pagadora dos clientes. Por fim, mudanças significativas da taxa de câmbio devem causar dificuldade às empresas que tomaram empréstimos em dólar.
No médio prazo, os bancos precisam deixar de ser tão dependentes da remuneração que obtêm com os títulos públicos (que representam quase 40% dos seus ativos) e reaprender a emprestar ao setor privado a taxas de intermediação não excessivas.
Este reaprendizado será tanto mais rápido quanto maior for a concorrência interna -nesse sentido a entrada do Hong Kong and Shanghai Bank no mercado é positiva. E mudar a mentalidade das autoridades econômicas no sentido de conter o crescimento da dívida pública e ter princípios mais prudentes de endividamento.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

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