São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997
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Cenário externo complica a vida do Real

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário externo mudou radicalmente desde o início do Real -e mudou para pior. Daí a pressa que governo tem demonstrado nos últimos dias para tentar pôr em ordem as contas externas do país, que desde março vem perdendo reservas externas -base de sustentação da âncora cambial.
Em resumo é essa análise que faz o economista e professor da USP Eduardo Giannetti da Fonseca sobre o atual momento do plano de estabilização, raciocínio que parece ter virado consenso ao menos no mercado financeiro.
Assim, cai por terra a tese defendida pelo diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco, que está no exterior com a missão de trazer ao país US$ 550 milhões.
Giannetti da Fonseca cita inclusive a antecipação da viagem de Franco para captar recursos para o país como um dos fatos que revelam a urgência que tomou conta da equipe econômica.
"O governo já reviu a postura olímpica que vinha tendo (com relação à situação das contas externas do país) e a antecipação da emissão dos títulos no exterior é prova disso", avalia o economista.
Para ele, os ventos externos que sopravam favoravelmente ao país -baixos juros e bom preço para as exportações- viraram.
"Agora esses ventos estão soprando contra o plano de estabilização. O preço das exportações está em queda e os juros, em alta."
E os juros norte-americanos já subiram 0,25 ponto percentual e devem subir pelo menos mais 0,5 ponto até o final do ano.
Há ainda um outro problema: a valorização do dólar em relação a outras moedas, como o iene e o marco. Como o dólar é referência para as exportações brasileiras, a alta da moeda norte-americana representa uma valorização extra para o real, já valorizado pela política do Plano Real.
"São essas três frentes que estão levando a uma rápida deterioração das contas externas do país", considera Giannetti da Fonseca.
Para ele, a simples desvalorização do real em relação ao dólar, que em tese serviria para aumentar as exportações e reduzir as importações, poderia trazer problemas.
"Se a economia estiver aquecida, a desvalorização pode ser 'comida' rapidamente pela inflação."
Esse cenário explica algumas medidas adotadas nos últimos dias, como a redução do IOF para o investimento externo e a interrupção da queda gradual dos juros, que desde outubro foi regra.

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