São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Russos e chineses fazem aliança estratégica

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Economia e diplomacia sempre andaram juntas, mas nesses tempos de globalização praticamente se confundem. Na semana passada, o mundo recebeu o impacto de uma iniciativa surpreendente na diplomacia econômica: o anúncio de uma aliança estratégica entre a China e a Rússia com o objetivo de fazer um contraponto à dominação dos EUA no cenário global.
Não é a primeira vez, desde o chamado "fim da Guerra Fria", que os EUA se vêem diante de ameaças ou ruídos no que alguns acadêmicos andaram denominando de "Pax Americana". Mas talvez pela primeira vez a dissonância resulta de modo mais intenso de aspectos ao mesmo tempo econômicos e de segurança. Para complicar o quadro, a declaração sino-russa não é um fato isolado.
A Guerra Fria acabou, mas a agenda militar global não desapareceu, mudou. Para os russos, nos últimos meses têm sido prioritário preparar-se para resistir à promessa do presidente Clinton, de incluir países do Leste Europeu na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar liderada por Washington que se tornou um dos símbolos do pós-guerra ocidental.
A China, além de enfrentar as campanhas dos EUA por direitos humanos e as pressões pela defesa de propriedade intelectual, tem sido alvo nos últimos meses de várias denúncias de desvio militarista de máquinas importadas para uso civil. As conversas dos EUA com o Japão sobre as Coréias também incomodam a cúpula chinesa.
Mas ainda que o confronto do Japão e dos EUA, de um lado, com a Rússia e a China, de outro, tenha um inegável sabor de Guerra Fria, as relações econômicas e políticas entre esses países são outras.
A China está pedindo para entrar na OMC e seu desenvolvimento é movido a investimento estrangeiro. A Rússia estará nas mãos do FMI por uns bons anos e tem como preocupação mais imediata a consolidação alemã ao Leste. A integração européia é mais relevante que o delírio de um conflito mais amplo com a maior potência do planeta.
Carta européia
A União Européia, a rigor, é quem mais poderá beneficiar-se dessa aliança estratégica oriental. Basta lembrar o comportamento cabisbaixo das autoridades alemãs diante da China, no ano passado, para se ter idéia do que vem por aí.
Aliás, nos últimos dias a ofensiva anti-EUA dos europeus ganhou as páginas econômicas dos jornais. Protagonizando os incidentes, outra personagem-chave dos tempos da Guerra Fria: Cuba.
Os espanhóis ameaçaram retaliar se os EUA continuarem forçando a mão no bloqueio unilateral; alemães e francesas derreteram-se em elogios à abertura econômica cubana.
A França considera que a economia cubana "está bem encaminhada" e assinou um acordo bilateral que garante o investimento estrangeiro na ilha, limitando as possibilidades de expropriação ou prevendo uma indenização caso isso ocorra. Os EUA endureceram contra Cuba nos últimos meses e a União Européia, mesmo sem levar a briga às últimas na OMC, está promovendo uma guerrilha econômica em favor de Fidel Castro.
E, por falar em guerrilha e alianças, o Peru recebe nessa semana uma missão do Banco da China.

Texto Anterior: Não há parto sem dor
Próximo Texto: Parabéns à Justiça
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.