São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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BC conta com "situação catástrofe"

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Responsável pelo Proer no governo, Cláudio Mauch, 48, é o diretor de Fiscalização do Banco Central. Ele diz levar em conta a possibilidade de ocorrer uma "situação catástrofe".
Ela viria no momento em que os bancos sob intervenção não conseguissem receber nenhum de seus créditos, e a Justiça não conseguisse nenhum dos bens de ex-acionistas e administradores.
Eis os principais trechos de sua entrevista à Folha.
(JBN)
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Folha - A moeda "podre" que mais aparece nas contas do Proer é o FCVS, que o Banco Central comprou pelo valor de mercado e contabilizou pelo valor de face. Quem saiu perdendo?
Cláudio Mauch - O deságio foi pago, de uma maneira ou de outra, pelo mercado financeiro. Foram os bancos que se desfizeram de FCVS por um valor menor.
Folha - O Banco Central ficou então com esse deságio?
Mauch - O banco ruim (sob intervenção do BC) não se apropria da diferença entre o valor real e do valor de face. O governo também não receberá o valor de face. Uma coisa é a dívida do governo que recebemos como garantia. Outra é o valor desses papéis hoje.
Folha - Imaginemos um banco que, ao quebrar, devia R$ 1 bilhão ao BC. Ele recebeu R$ 4 bilhões do Proer e pagou essa dívida. O R$ 1 bilhão já seria um reembolso?
Mauch - Não foi o Proer que foi reembolsado. Foi o BC. O Proer permanece com um crédito de R$ 4 bilhões junto a esse banco.
Folha - Por que nunca foram divulgados os contratos de venda dos três grandes bancos a seus novos controladores?
Mauch - O contrato entre as instituições financeiras está ao abrigo do sigilo bancário.
Folha - Como se chega ao preço de compra de cada operação?
Mauch - Não se chega ao valor exato no dia da intervenção. O comprador precisa saber o que está comprando. Normalmente se dá um prazo, que pode chegar a 180 dias, 360 dias.
Folha - Já foi feita a liquidação das partes podres do Econômico e do Nacional? Há alguma previsão?
Mauch - Os dois bancos continuam em liquidação.
Folha - Pela parte do processo já concluída, é possível calcular qual será o buraco patrimonial deles?
Mauch - Das garantias do Nacional, nós já vendemos uma parte. Temos imóveis, e ainda valores maiores para se fazer uma avaliação final. Há também o banco de investimentos do Nacional, que é garantidor de operações que não foram passadas para o Unibanco.
Folha - Falta muito para se chegar aos R$ 7 bilhões liberados?
Mauch - O crédito que o BC deu está garantido por títulos. Tem-se um crédito de 100, garantido por 120, mas digamos que o valor dessa garantia seja hoje de 70. O BC ficaria credor da massa em 30. Mas, de acordo com o que recebermos, esses 30 podem diminuir.
Folha - E se não sobrar mais nada, e a Justiça não conseguir recuperar os bens dos antigos acionistas e controladores?
Mauch - Seria a situação catástrofe. Ela ocorre quando não se tem mais nada para receber. Então, digamos que o Banco Central possuía a conta de 100, com 120 em títulos de garantia, e conseguiu receber 70, que era o valor de face. O BC perdeu 30. Mas o que aconteceu lá na conta do Tesouro? Ele baixou da dívida dele 120. Na pior das hipóteses, ainda haverá um pagamento de dívida pública.
Folha - Qual o impacto do Proer nas contas públicas?
Mauch - Ainda não sabemos. O Depec (Departamento de Pesquisas Econômicas) ainda está fazendo projeções e cálculos.
Folha - Como é fisicamente o Proer: há um computador para cada cada banco podre?
Mauch - Há um Departamento de Processos Administrativos e Regimes Especiais. Essa massa é administrada por esse departamento. Cada banco tem um gerente de contas, que pressiona o liquidante, para que se faça tudo o mais rápido possível.
Folha - Se o buraco do Bamerindus acabar sendo inferior a R$ 2 bilhões, como prevê o presidente do BC, como entender os R$ 2,5 bilhões do fundo garantidor? Isso não significaria que o BC acabará tendo lucro?
Mauch - Não é bem assim. A conta não fica positiva. Ela fica com uma transferência de credor. O depositante ressarcido passa a ser credor do Fundo Garantidor de Crédito.
Folha - Algum outro banco já pagou ao Proer tudo o que deve?
Mauch - O Proer do Banorte foi de R$ 476 milhões. Agora sobram de R$ 30 milhões a R$ 40 milhões.

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