São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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Ex-policial é condenado a 449 anos

RODRIGO HINRICHSEN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O ex-policial militar Paulo Roberto Alvarenga, 38, foi condenado ontem no Rio a 449 anos e oito meses de prisão pela morte de 21 pessoas na chacina de Vigário Geral, em agosto de 1993. Ele foi o primeiro acusado a ser julgado.
O ex-PM foi considerado participante direto na morte de 21 pessoas e em quatro tentativas de homicídio. O julgamento, presidido pelo Juiz José Geraldo Antonio, começou na quinta-feira e só terminou ontem pela manhã.
Mesmo com essa condenação, Alvarenga pode ficar preso no mpaximo por 30 anos.
Alvarenga foi o primeiro dos 51 réus a ir a júri. O nome dele surgiu no processo através do depoimento do ex-informante da polícia Ivan Custódio Barbosa de Lima, principal testemunha do caso.
Para o promotor José Muiños Piñeiro Filho, a pena foi justa. "O Ministério Público está satisfeito com o que foi determinado em juízo. Poderíamos pedir o aumento da pena, mas, pelo menos por enquanto, não o faremos", disse.
Já os advogados de defesa Rodrigo Rocca e André Ribeiro estavam insatisfeitos. Os dois fizeram apelação com base no artigo 593 do Código Penal, alegando injustiça ou erro na determinação do Conselho de Condenação.
"A pena foi alta demais. A decisão foi mais política do que técnica. O que influenciou a pena foi a pressão pública atual de casos como o de Diadema e da Cidade de Deus", afirmou Rocca.
O juiz considerou ilegítima a alegação da defesa de que o testemunho de Ivan Custódio Barbosa de Lima não deveria ser considerado por causa da sua ficha criminal.
Alvarenga foi considerado culpado por seis dos sete jurados. Cerca de 40 pessoas estiveram presentes e vibraram com o veredicto.
A escritora Glória Perez e representantes do grupo das Mães de Acari também compareceram.
A assistente de acusação, Cristina Leonardo, comemorou a condenação: "Este resultado é uma vitória para a Justiça e para a sociedade. Este pode ser o início de um processo que deve conduzir ao fim da impunidade no país".
Na noite de sábado, foram ouvidas as testemunhas de acusação Emir Laranjeiras, ex-deputado, e Denisar Quintas dos Santos, atual comandante do 9º Batalhão da PM, área de Vigário Geral.
Também foram ouvidas as testemunhas de defesa Norma Sueli Martins Dias, vizinha do réu, e Sueli Alvarenga, esposa do ex-policial. A primeira afirmou que esteve com Alvarenga por volta das 18h na noite da chacina.
"Como eu sabia que teria que sair de casa muito cedo, pedi a ele que colocasse o seu carro primeiro na vaga para que eu não ficasse presa na hora de sair", alegou.
Já a esposa do ex-PM afirmou que na noite da chacina esteve com ele o tempo todo. Ela garantiu que ele teria dormido primeiro que ela e que tomaram café da manhã normalmente na manhã seguinte.

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