São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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Mudança na universidade

HÉLGIO TRINDADE

O seminário promovido pela Unesco reforçou a vontade de mudança nas universidades. Um dos eixos da discussão foi a "pertinência" da universidade, ou seja, sua capacidade de contribuir para as grandes transformações do mundo contemporâneo, a "qualidade do ensino superior, a avaliação institucional e o credenciamento" como instrumentos indispensáveis para a melhoria do desempenho acadêmico. No entanto, o tema estratégico para viabilizar os dois desafios anteriores foi a complexa questão da "gestão e financiamento do ensino superior".
Houve consenso de que o Estado não pode retirar sua responsabilidade no financiamento do ensino superior público e que este deve ser considerado um investimento social básico de longo prazo para o desenvolvimento do país.
A preocupação era generalizada com a tendência dos governos latino-americanos atuais (primeiro pelos efeitos da crise fiscal do Estado e depois pela orientação neoliberal dominante) de reduzir os investimentos em ciência e tecnologia e no sistema de ensino público.
Outro desafio, porém, é como responder aos argumentos do governo sobre os "gastos excessivos" das universidades se os dados gerados pelas universidades públicas não têm a legitimidade necessária para serem cotejadas com as estatísticas oficiais. Daí outra recomendação importante: a criação de "institutos e centros de estudos estratégicos de nível superior, de forma tal que, através deles, os países do continente possam enfrentar conjuntamente estes desafios". Esta tem sido, também, a preocupação da Andifes no sentido de mobilizar a competência instalada nas universidades, através de equipes interdisciplinares, para o estudo sistemático dos problemas e alternativas do sistema federal público de ensino superior. Hoje, só há um centro que tem trabalhado há anos neste campo: o Nupes da USP.
A complexidade do ensino superior público brasileiro é de tal ordem, porém, que se impõe um esforço de institucionalização de novo centro de pesquisa para que sejam geradas bases de dados confiáveis que mostrem a realidade das universidades.
Além de mostrar a situação bloqueada em que se encontra o ensino superior federal público nos últimos anos, permitirá, através de estudos comparativos, conhecer melhor a situação dos outros países. Este é o espírito da proposta do novo presidente da Andifes, reitor Tomaz da Mota Santos, da UFMG: implantar o Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos da Educação Superior Pública.
Hoje parece existir, no Brasil, um consenso de que são irreversíveis as mudanças na universidade pública e que a autonomia é parte essencial na consolidação do novo modelo.
A questão aberta no debate com o governo, porém, diz respeito à direção dessa mudança e, nesse campo, o leque de alternativas -a serem produzidas pela pesquisa institucional e comparativa- trará certamente um maior aprofundamento ao debate.

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