São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ato pela memória de pataxó reúne 1.500

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ato público pelo sétimo dia da morte do índio pataxó Galdino de Jesus dos Santos reuniu ontem cerca de 1.500 pessoas, a maioria vestia branco. A estimativa é da Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal.
O ato, que durou cinco horas, virou um palanque para os índios pedirem a demissão do presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Júlio Gaiger, reclamarem a demarcação de terras, da falta de assistência médica e até mesmo da venda da Companhia Vale do Rio Doce, além de apoio ao grupo de sem-terra presente.
Nenhuma autoridade federal compareceu ao ato público realizado no ponto de ônibus onde ele foi incendiado por cinco jovens de classe média de Brasília, no dia 20.
O momento de maior concentração foi na celebração ecumênica com as liturgias judaica, evangélica, católica, luterana e indígena, além de um minuto de silêncio e revoada de pombas brancas.
Isolado, pintado de vermelho e alheio a boa parte da manifestação, o índio Araribóia Pataxó -que se disse primo de Galdino- passou boa parte do tempo em cima de árvores ou sobre o ponto de ônibus, provocando os manifestantes. "Vocês não gostam de índio, só querem saber de dinheiro", afirmou, chorando.
O cerimonial do governo do Distrito Federal anunciou uma série de presenças ao ato, como a da novelista Glória Peres (que não compareceu) e dos ministros Sepúlveda Pertence (Supremo Tribunal Federal) e Milton Seligman (interino da Justiça).
Seligman estava no Rio acompanhando o presidente Fernando Henrique Cardoso. Pertence tinha compromisso no qual recebia uma homenagem marcada havia um mês. "A solidariedade ao índio eu prestei ao ir a seu velório."
Quem apareceu no ato foi o cantor Falcão. Carregava um girassol na lapela e um extintor de incêndio pendurado no pescoço. "Agora, para andar em Brasília, só preparado para apagar fogo", brincou. "Os índios precisam carregar extintor para não serem extintos."
No ponto de ônibus onde o índio foi incendiado, na quadra 703/704 da avenida W3 Sul, houve uma série de homenagens. O banco onde Galdino dormia foi tomado por flores e rosas. No chão onde ele caiu foi desenhado com giz o corpo de um índio, cercado de velas acesas. O ponto de ônibus foi todo pintado de branco (na cidade, os demais são amarelos) e recebeu na parte de trás um grafismo, feito por ex-pichadores, pedindo a paz.
A área atrás do ponto foi batizada pelo governo como "Praça do Compromisso". "É o nosso compromisso para que as coisas mudem", disse o governador Cristovam Buarque (PT), justificando o nome do local.

Texto Anterior: Estudo aborda poder da Coca-Cola
Próximo Texto: Missa vira protesto na BA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.