São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Menor detido ganha apelido de 'pataxó'

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O menor G.N.A.J., 16, um dos cinco jovens que confessaram ter colocado fogo no índio Galdino Jesus dos Santos, ganhou um apelido dos colegas internos do Centro de Atendimento Juvenil Especializado, onde está detido desde segunda-feira: pataxó.
Sábado, pela primeira vez, G. foi posto no pátio da ala dos menores que aguardam julgamento por seus crimes. A reação dos demais internos, segundo alguns monitores presentes, foi de curiosidade.
Além de ser loiro e ter a pele muito clara, ele destoa dos demais por ser jovem de classe média, com boas roupas e boa aparência -embora estivesse febril por causa de uma gripe adquirida com os banhos frios e com a cela úmida, que divide com mais dois garotos.
A mãe de G., Naira Almeida, chegou até a porta do centro para visitá-lo na tarde de sábado. Ao ver a imprensa na porta do centro, voltou para casa e pediu que o advogado do menor, Rommel Corrêa, fosse levar remédios, biscoitos e água para ele.
Pelo regimento interno do centro, os advogados só podem visitar seus clientes durante a semana -os sábados são reservados à família. A exceção, segundo uma funcionária que não quis se identificar, foi aberta porque, no entendimento da direção do centro, a família tentou ver o garoto mas foi impedida pela imprensa.
Na saída, após uma hora e meia de conversa com G., o advogado disse que o menor estava abalado. "Ele está preocupado com a mãe, com os outros garotos (os outros quatro autores do crime) e pelo fato de ele e o irmão (também preso por atear fogo no índio) trabalharem para ajudar na renda da família", disse Corrêa.
Segundo o advogado, o menor não está acompanhando o noticiário sobre a morte do índio. Ele não soube nem sequer que foi seu depoimento quando detido, descrevendo como o grupo comprou álcool combustível e ateou fogo ao índio, que levou a polícia a concluir o inquérito em cinco dias e remetê-lo à Justiça.
G.N.A.J. tem audiência marcada para hoje à tarde com o juiz e o promotor da Infância e Juventude de Brasília. Será a primeira sessão antes do julgamento -ele pode ser condenado a até três anos de reclusão.

Texto Anterior: Missa vira protesto na BA
Próximo Texto: 'Qualquer um poderia fazer isso', diz amigo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.