São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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'Qualquer um poderia fazer isso', diz amigo

BETINA BERNARDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quatro acusados da morte do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos receberam familiares no NCB (Núcleo de Custódia de Brasília) ontem, dia de visitas aos presos.
Os amigos chegaram tentando justificar o ato. Insistem que foi brincadeira que deu errado.
As mães de Max Rogério Alves, 19, Antônio Novély Vilanova, 19, Eron Chaves de Oliveira, 19, e Tomás Oliveira Almeida, 18, foram ao presídio ver os filhos.
Um dos amigos, que se identificou apenas como Kiko, 19, levou a namorada de Max, Carla, ao local.
"O Max é calmo, uma pessoa de bom coração. Ele é incapaz de matar", disse Kiko. 'Eles já estão sofrendo muito e a imprensa fala deles como selvagens", disse Carla.
Para Kiko, os rapazes não deveriam ser tratados como criminosos. "Eles fizeram uma brincadeira de mau gosto, que deu errado. Não queriam matar. Eles estão presos para dar exemplo porque qualquer jovem em Brasília podia ter feito isso."
Os presos recebem os parentes numa área formada por um pátio coberto, outro aberto e um refeitório. Ontem, eles almoçaram arroz, feijão, bife, salada e batata-doce.
Antônia Graça Silva, mãe de Antônio, chegou às 13h45 acompanhada de cinco pessoas. Chorando, ela era amparada pela mulher de Cirillo, irmão com quem Antônio dividia um apartamento em Brasília. O casal tem um filho de 1 ano, que também foi ao presídio.
Para despistar, os parentes usaram roupas despojadas parecidas às dos familiares de outros presos, que são pobres. A mãe de um dos rapazes levou um rodo para a limpeza da cela. Os familiares levaram revistas, livros e baralhos, que não puderam deixar no presídio por estarem ligados a jogos de azar.
Segundo familiares de outros presos, os quatro rapazes foram o centro das atenções. Todos queriam saber quem eram os "barãozinhos". Segundo as descrições, eles e os familiares estavam cabisbaixos e conversavam, mas houve momentos de descontração.
Max teria passeado abraçado com Carla e Eron teria ficado com Bianca, sua namorada. O pai de Bianca, que não quis dar o nome, disse na saída que o momento era de dor e que, se pudessem, os rapazes estariam no lugar do índio.

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