São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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França reedita duas obras do sociólogo

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dois livros do sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974) estão sendo relançados este mês na França, "Eléments de Sociologie Religieuse", de 1935, e "Le Sacré Sauvage", obra-póstuma de 1975.
Se por aqui a nova edição de "Poetas do Brasil", de 1946, surge num momento em que a academia local volta a mostrar grande interesse pelos temas da miscigenação e do sincretismo religioso, dos quais as obras de Gilberto Freyre, mais cotadas do que nunca, e de Bastide são referências privilegiadas, na França há algo semelhante. (Bastide é o tradutor de "Casa Grande & Senzala" para o francês).
O suplemento literário do jornal "Libération" dedicou este mês uma reportagem de capa a Roger Bastide.
Redescoberta
Tentando explicar as causas do que seria quase uma "redescoberta" da obra do sociólogo, o jornal destaca um gosto renovado dos franceses pelo estudo dos fenômenos de "aculturamento" e diz que "pensamentos não sistématicos, não ideológicos, com forte base empírica e que duvidam de si mesmos" estão de novo em alta.
Como era previsível, o jornal francês relaciona a nova onda intelectual e a morte do comunismo. Nem precisaria ser tão explícito: pensamento sistemático, ideológico, sem base empírica e que não duvida de si mesmo -tudo isso, no atual contexto, significa uma única coisa: pensamento marxista.
Embora dissesse ter grande interesse pela obra de Marx, Bastide não tinha relações muito amistosas com intelectuais marxistas.
O crítico literário Antonio Candido, que em entrevista ao "Libération" destaca a "importância extraordinária de Bastide para o Brasil", conta uma história muito ilustrativa a esse respeito.
Cafuné
Diz ele que "A Psicanálise do Cafuné", terceiro livro de Bastide e seu primeiro escrito em português, causou grande irritação em parte dos marxistas brasileiros. Furiosos, diz Candido, alguns reclamavam: "fazemos vir para cá intelectuais franceses e eles escrevem sobre o cafuné!".
Ortodoxia e convencionalismo não eram mesmo o forte de Bastide. Sempre receptivo a áreas que poderiam ser consideradas menos nobres do pensamento, foi Bastide quem orientou a tese da ensaísta Gilda de Mello e Souza, mulher de Antonio Candido, sobre a moda no século 19. Dela, resultou o livro "O Espírito das Roupas", relançado em 1987 pela Cia. das Letras.
"Quem, além de Bastide, nos anos 40, teria aceitado que uma estudante propusesse como assunto de tese a moda no século 19", pergunta Gilda de Mello e Souza.

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