São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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Exposição questiona crimes de guerra alemães

PAULA DIEHL
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM BERLIM

A exposição "Guerra de Extermínio - Crimes do Exército Alemão" tem provocado grande discussão e controvérsia na opinião pública alemã. Organizada pelo Instituto de Ciências Sociais de Hamburgo, ela tem por objetivo focar a violência nacional-socialista e quebrar o 'tabu do silêncio' que envolve a imagem de "bom exército" durante a Segunda Guerra Mundial.
Depois de percorrer 15 cidades alemãs, passando por Hamburgo, Berlim, Munique e agora Frankfurt, a exposição atingiu um número recorde de visitantes -ao todo 160 mil. Esse sucesso de público não se deve apenas às fotos impactantes tiradas durante a passagem nazista pelo leste europeu.
A principal razão do interesse está na polêmica em torno do passado alemão. Para o mecenas do projeto, o professor Jan Philipp Reemtsma, a guerra do exército de Hitler "não foi uma guerra contra outro exército, mas sim contra uma determinada população cuja grande parte -os judeus- deveria ser exterminada".
Isso coloca em questão o papel da responsabilidade individual dos alemães durante o nazismo.
As reações, principalmente da direita alemã, podem ocasionar uma certa apreensão, como é o caso do comportamento da CSU (União Social Cristã), principal aliado do partido de Helmut Kohl (CDU) na Baviera.
Depois de tentar bloquear sem sucesso a abertura da mostra em Munique, os membros da CSU se reuniram em passeata para protestar contra o "escândalo da difamação dos valorosos soldados alemães" -e foram acompanhados por neonazistas.
Como em todas as vezes que se tenta abordar o passado nacional-socialista na Alemanha, o assunto foi trazido a especialistas: historiadores, sociólogos, cientistas políticos e psicólogos trataram de analisar o fenômeno.
Até mesmo o parlamento tentou preparar um protocolo de consenso sobre a exposição -o que ainda não foi possível, já que as divergências de opiniões também dominam as instâncias parlamentares em Bonn.
Segundo o professor Reemtsma, uma das razões do choque ocasionado pela exposição é o fato de "ela confrontar as lembranças individuais e coletivas, os processos de digestão do passado e seus mitos com os fatos".
A jornalista Brigitte Mõller, 61, é um exemplo. Ela descobriu em Munique a foto de seu pai, que tomava parte em um enforcamento de civis na Rússia. Para a jornalista, a imagem de seus pais ficou muito abalada depois da visita à exposição. "Eu desejaria que meus pais tivessem sido mais corajosos", comenta. Outro visitante parece ter sentido o mesmo, e pergunta, sem assinar no livro de visitas, "Pai, onde você estava?".
A exposição toca em um ponto central da sociedade alemã: a distância entre as gerações provocada pelo "tabu do silêncio" no período pós-guerra.

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