São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paxton defende saga de ciganos irlandeses

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

Sentado confortavelmente, com os pés descalços apoiados na poltrona de um quarto de hotel em San Francisco, o ator Bill Paxton, 42, não quer conversar sobre "Titanic".
O filme-catástrofe mais esperado do ano custou US$ 200 milhões e teve o lançamento adiado de julho para novembro deste ano por causa dos complicados e numerosos efeitos especiais.
Para Paxton, o filme mais importante de 1997 é "Traveller", que ele produziu com US$ 5 milhões e no qual atua, dirigido por Jack Green.
Segundo o ator, que começou como cenógrafo em filmes de Roger Corman, há 22 anos, produzir um filme era seu grande sonho.
"Traveller" gira em torno da tribo cigana de mesmo nome. Pouco conhecidos pelo grande público, os travellers são imigrantes irlandeses que viajam pelo interior dos Estados Unidos praticando pequenos crimes para conseguir sobreviver.
Bokky (interpretado por Bill Paxton) faz o mesmo, acompanhado pelo primo Pat (o ator Mark Wahlberg).
Quando ele leva vantagem sobre a garçonete Jean (Julianna Margulies), acaba se apaixonando e tentando mudar de vida.
Leia a seguir trecho da entrevista que Bill Paxton deu, com exclusividade, à Folha sobre "Traveller".
*
Folha - Como você decidiu se envolver com o projeto desse filme?
Paxton - Minha mulher Louise lê roteiros para mim e achou que eu e Bokky tínhamos muito em comum. Eu tinha acabado de fazer "One False Move" e queria encontrar outro personagem interessante. Para mim, a história é como uma odisséia para Bokky, e ele se encontra no final.
Folha - Como você acha que "Traveller" se diferencia de seus outros filmes como "Apollo 13", "Twister" e agora "Titanic"?
Paxton - É um trabalho adulto, de qualidade. É sobre um mundo que eu não conhecia e que nunca tinha visto num filme. A idéia de ciganos loiros vindos da Irlanda parece estranha para muita gente.
Folha - É verdade que a decepção com "Twister" lhe fez tentar algo diferente?
Paxton - Durante as filmagens de "Twister", eu convenci Jack Green, que até então era diretor de fotografia, a tentar dirigir. Acabei descobrindo um diretor de estilo clássico, que permite que os atores usem bem o tempo na frente da câmera.
Folha - É possível fazer o mesmo no set de um filme caro como "Titanic"?
Paxton - Não há como generalizar as maneiras de atuar apenas de acordo com o orçamento do filme. "Apollo 13" e "Titanic" têm muitos efeitos especiais, mas também tem bons diálogos.
Folha - Você se sente mais à vontade em filmes independentes ou nos de grande orçamento?
Paxton - Essa história de novo cinema independente é apenas uma decorrência e não uma revolução, como muitos sugerem. Os estúdios não conseguem mais fazer filmes que dêem lucros e acabaram criando oportunidade para caras como eu colocar as mãos na massa. Nós nos inspiramos em filmes antigos de Hollywood, nada mais. É uma época muito saudável em termos de criatividade.
Folha - Como você cria seus personagens? Nesse caso, fez alguma pesquisa de campo?
Paxton - Não. Basicamente, leio o roteiro. Se é um roteiro bom, basta. Nesse caso, não acho que os travellers seriam receptivos à nossa aproximação.
Folha - E com relação a "Titanic"? Você estava mais informado?
Paxton - Claro que sim.
Folha - Será que, assim como o Titanic original, os travellers vão desaparecer?
Paxton - É apenas uma questão de tempo para que os travellers desapareçam. Eles são como uma cápsula do passado, e o século 21 está chegando para destruir a filosofia de vida deles.

Texto Anterior: Exposição questiona crimes de guerra alemães
Próximo Texto: "Diabólica" de Nelson Rodrigues vai às telas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.