São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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Kabila dá ultimato às Nações Unidas

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O líder rebelde do Zaire, Laurent Kabila, deu prazo de 60 dias para que a ONU repatrie os cerca de 100 mil refugiados hutus ruandeses concentrados no leste do país.
Kabila se reuniu ontem com autoridades de ajuda humanitária, representantes da União Européia e da ONU em Kisangani (leste do país, sob comando rebelde).
Kabila anunciou que caso a ONU não providencie a repatriação, suas forças o farão. "Isso foi longe demais", disse Kabila ao final da reunião. Cerca de 85 mil refugiados, entre mais de 1 milhão que fugiram da perseguição étnica em Ruanda, desapareceram dos campos ao sul de Kisangani em que estavam concentrados.
Segundo a ONU, os guerrilheiros de Kabila, majoritariamente de etnia tutsi, querem uma "solução final" (termo com que a Alemanha nazista designava a morte dos judeus) para o problema dos refugiados hutus (etnia rival) no Zaire.
Há seis dias, eles impediram que a ajuda humanitária chegasse aos refugiados. Quando sobrevoou a região, a ONU constatou que os hutus haviam fugido dos campos.
Moradores da região haviam dito que os rebeldes mataram centenas de refugiados.
Kabila disse que espera desculpas do secretário-geral da ONU, o ganense Kofi Annan, que na quinta havia afirmado que os rebeldes estavam realizando um "extermínio lento" dos hutus.
Os refugiados foram para o Zaire em 1994, depois serem derrotados pelos tutsis na luta pelo poder em Ruanda.
Crise de poder
O Zaire enfrenta, além da crise humanitária, uma crise de poder. Em sete meses de guerra civil, os rebeldes de Kabila já conquistaram mais da metade do país, partindo do leste, enquanto avançam em direção à capital zairense, Kinshasa, no oeste.
Kabila quer derrubar do poder o presidente Mobutu Sese Seko, enfraquecido política, militar e fisicamente (ele luta contra um câncer de próstata).
Ontem, em Kinshasa, cerca de 3.000 pessoas, sob o comando do Movimento Popular Revolucionário, realizaram manifestação com matiz antiamericano em apoio ao presidente. O líder do movimento, Mananga Dintoka Pholo, criticou "a potência ocidental" que apóia os rebeldes, referindo-se aos EUA.
Ontem, o vice-presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, anunciou que o presidente e o líder rebelde devem se reunir na próxima semana. Kabila havia dito que concorda em ver Mobutu Sese Seko para que este lhe entregue o comando do país.

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