São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Investimento e pensões

JOSÉ SERRA

Não tem sido fácil aumentar a poupança e o investimento na economia brasileira, fatores indispensáveis para um crescimento maior da produção e do emprego.
O setor público como um todo continua exibindo um déficit declinante, mas ainda razoável, cuja eliminação rápida é difícil: não há mais inflação para corroer os salários do funcionalismo; os juros básicos, embora menores do que há dois anos, continuam altos (devido aos problemas do balanço de pagamentos) e pressionam as despesas governamentais com os encargos da dívida pública.
Por último, fechando um círculo vicioso, as receitas tributárias crescem só moderadamente, devido ao moderado crescimento da economia.
Outra fonte de poupança, os financiamentos externos, está limitada pelo bom tamanho do déficit em conta corrente do balanço de pagamentos. Seria parvoíce defender a ampliação desse déficit.
Os investimentos estrangeiros diretos estão crescendo bastante depois do Real, da confiabilidade internacional que o governo Fernando Henrique inspira e das privatizações, mas não aumentam necessariamente a poupança externa. Só o fariam se tivessem como resultado a elevação do déficit em conta corrente. Em matéria de balanço de pagamentos, sua principal e boa virtude é financiar de forma mais sadia esse déficit.
Face aos apertos financeiros do setor público e às limitações do financiamento externo, ganham maior significado os chamados fundos de pensão, como fontes de poupança e financiamento a longo prazo.
No caso da previdência fechada, os fundos recolhem contribuições da empresa e dos empregados, com vistas à complementação futura de suas aposentadorias.
Tais recursos são aplicados e reaplicados para possibilitar aumentos de patrimônio e de rendimentos capazes de cobrir as referidas complementações. São volumosos: no começo deste ano perfizeram US$ 70 bilhões. Há dez anos, não chegavam a US$ 9 bilhões. Simulações do Ipea mostram que esses ativos ultrapassarão os US$ 200 bilhões até 2005.
No Brasil, 80% desses ativos são de fundos de pensão de empresas estatais. Por isso, talvez, eles sejam mais conhecidos em virtude das denúncias sobre desequilíbrios atuariais (US$ 20 bilhões), excessos de benefícios e de contribuições das empresas patrocinadoras, e investimentos malfeitos ou até como integrantes da cadeia da felicidade mostrada na CPI dos precatórios.
Mas esses problemas não devem obscurecer sua importância como fontes de poupança e investimento. Ao contrário, devem servir como motivação para aperfeiçoamentos e mudanças corajosas. Isso, aliás, torna-se indispensável face à privatização de várias estatais patrocinadoras, o que levará à "privatização" dos respectivos fundos.

Texto Anterior: Saudosa memória
Próximo Texto: CAPITAL SEXUAL; SALÁRIO MÍNIMO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.