São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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Presidente Fujimori é modelo do anti-herói latino-americano

Ações espetaculares garantem popularidade do chefe de Estado

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Peru, Alberto Fujimori, é o modelo mais bem-acabado do anti-herói político da América Latina. Faltam a ele virtudes democráticas, mas sobra coragem para ações que agradam à população de seu país.
Sua ação mais recente ocorreu na última terça, quando Fujimori surpreendeu o mundo ao invadir a residência diplomática do Japão em Lima, pondo fim a 126 dias de cativeiro de 72 reféns mantidos pela guerrilha do Tupac Amaru.
O saldo da invasão foi absolutamente favorável a Fujimori. Dos 72 reféns, morreu apenas 1, de infarto -em contrapartida, foram mortos ou massacrados os 14 guerrilheiros que estavam na residência. Houve só duas baixas militares.
Com baixos índices de popularidade por causa da crise econômica do país e da própria crise dos reféns, Fujimori viu seu prestígio voltar às alturas depois da invasão. Em poucos dias, sua popularidade pulou de 38% para 67%.
A exemplo da última intervenção militar, a trajetória de Fujimori é toda marcada por lances surpreendentes. A começar pela sua própria eleição para presidente, em 1990.
Contra todas as previsões, Fujimori derrotou Mario Vargas Llosa, um dos escritores mais importantes da América Latina. Dois anos depois, fechou o Congresso e, sem oposição, fez as reformas constitucionais que bem quis.
Vestido no figurino de neoditador, introduziu mudanças na economia que derrubaram a inflação, levaram investimentos ao país, mas não conseguiu fazer com que o Peru deixasse de ser um dos países mais pobres do mundo.
Sua quarta grande ação teve como alvo a guerrilha. Os grupos guerrilheiros Sendero Luminoso e Tupac Amaru, que ameaçavam tomar conta do país pelo terror, foram praticamente dizimados.
A popularidade de Fujimori subiu a ponto de ele ser reeleito em 95 para um segundo mandato com quase 70% dos votos. Mas sua ação contra a guerrilha deixou um rastro de atrocidades por todo o país.
No governo Fujimori, os direitos humanos são sistematicamente violados. Os militares podem prender qualquer suspeito de atividades terroristas. Há mortes e torturas no Peru. Tribunais secretos condenam sem que o acusado tenha o menor direito de defesa.
O último grande lance político e eleitoral de Fujimori foi dado com a libertação dos reféns do Tupac Amaru. Para quem estava politicamente no chão, ressurgiram as chances de se reeleger para um terceiro mandato presidencial.
Trata-se de um fato absolutamente inédito na história política da América Latina. Excluindo-se os ditadores, nenhum outro presidente conseguiu manipular assim a Constituição e a consciência da população para se perpetuar no poder. Pela vontade das urnas.

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