São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
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JUCA KFOURI

Em meio ao caos carioca, surge a liga local, formada por Flamengo, Fluminense e Botafogo. O Vasco, é claro, não participará enquanto estiver na mão de quem está.
A boa imprensa do Rio de Janeiro saúda a iniciativa que, no entanto, precisa ser vista com um olhar mais cuidadoso e profundo.
Em primeiro lugar, é óbvio que as coisas não podem continuar como estão e qualquer movimento contra o tiranete da federação local é bem-vindo. Mas é pouco.
Porque a liga estadual, hoje, está longe de ser a solução.
Parece ranhetice, mas o fato é que a liga só dará resultados quando for nacional e, pior (ou melhor), quando vier a ser composta por uma nova geração de dirigentes, que nada tenha a ver com a que está aí.
Basta dizer que a liga carioca nasce tendo como diretor de marketing um radialista, Édson Mauro, segundo locutor da rádio Globo local, com escritório na Kléfer, a empresa de marketing do presidente do Flamengo, que é associada da Traffic, a empresa que opera com a CBF e com a Confederação Sul-Americana de Futebol.
Convenhamos que estamos diante de mais um formidável atropelo da ética.
Francisco Horta, o presidente da liga, tem uma história vitoriosa e criativa como presidente do Fluminense, sem dúvida. Mas isso foi nos anos 70!
Não adianta esperar mudanças para valer com os mesmos cartolas de sempre. Esses apenas querem se antecipar e fingir que vão mudar o quadro atual apenas para mantê-lo -embora não seja, necessariamente, o caso de Francisco Horta.
Vale repetir que não se defende aqui uma posição romântica, que recusa o futebol como negócio. Ao contrário.
Só que dirigentes "amadores" não farão o moderno, até porque, como se vê, o esquema de partilha de lucros nebulosos está mantido sem tirar nem pôr no que seria a "nova" liga.
É duro clamar no deserto sem dar a impressão de metralhadora giratória ou de ser contra tudo e todos.
Mas é preciso que alguém diga com todas as letras que a liga nacional deve ser o primeiro passo e já diante de uma nova situação legal, como a que enseja a formação do clube-empresa.
Em caso contrário, como dizem os franceses, quanto mais se mudar, mais será a mesma coisa.
É uma pena, mas é simplesmente a verdade.

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