São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
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Trevisan lança contos com temática homossexual

PAULO GIACOMINI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Chega esta semana às livrarias "Troços & Destroços", novo livro de João Silvério Trevisan. Há três anos sem publicar, o escritor retorna ao conto -gênero em que começou sua carreira literária-, com 14 histórias de amor e morte sob a ótica homossexual.
Ainda neste semestre será publicado mais um livro inédito, "Masculino: Uma Identidade em Crise", em que diz superar a questão da homossexualidade.
Agora, se prepara para uma verdadeira maratona. Em maio vai estar no Rio para a estréia da peça "Heliogábalo e Eu". Depois, segue para Recife (PE) para a estréia de outra peça, "Church Blues".
No mês de agosto embarca para a Alemanha, para o lançamento do romance "Ana em Veneza", que ganhou prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte em 94.
Em entrevista à Folha, o escritor fala de "Troços & Destroços", cujo tema é a contradição entre o prazer e a dor de amar.
*
Folha - É possível dizer que os "troços" sejam Deus e o amor, e os "destroços" as desilusões, a Aids e a morte?
Trevisan - Destroços são o que você chama de troços. No título, me refiro ao estado de crise que é viver. "Troços & Destroços" é o resultado do embate entre Eros e Tanatos.
Folha - Como você avalia os relacionamentos homossexuais nessa era pós-Aids?
Trevisan - A Aids, nas nossas cabeças, é uma metáfora da morte. O resultado dessa vivência é desastroso. Não por causa da vivência em si, mas o medo do compromisso afetivo. A Aids mostra a incapacidade, não só dos homossexuais, mas do ser humano em se envolver com um compromisso afetivo.
Folha - Em todos os contos, Deus é um personagem recorrente...
Trevisan - Para mim, Deus é uma dúvida permanente, é parte do mistério. Minha relação com Deus é a maneira de me perguntar sobre o ser humano.
Folha - No conto "Altar de Oferendas", o personagem está com Aids e se sente um visionário. Você não está sublimando a doença?
Trevisan - Eu poderia falar do câncer. A Aids tem um lado de bênção que as pessoas ainda não se deram conta, a doença possibilita uma vivência da morte. Algumas pessoas passam por um estado de santificação, não de sublimação. Não é possível compreender a vida sem a vivência da morte.
Folha - Há dois anos, numa entrevista, você disse que estaria lançando uma edição revista do livro "Devassos no Paraíso"...
Trevisan - O livro está atrasado. Eu tenho estado envolvido em 15 projetos. Além disso, tenho que fazer algumas revisões históricas. Mas o livro deve sair no segundo semestre.
Folha - Você escreve apenas para os homossexuais?
Trevisan - Como disse o Oswald (de Andrade), o que eu faço é um biscoito fino para o povo brasileiro. Eu escrevo literatura popular brasileira, com tudo o que isso possa implicar. Em "Troços & Destroços" as histórias poderiam ser vividas por qualquer ser humano.

Livro: Troços & Destroços
Autor: João Silvério Trevisan
Lançamento: Editora Record, 160 págs., R$ 15

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