São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
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Refugiados hutus reaparecem na selva

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os refugiados hutus que desapareceram havia dias no leste do Zaire começaram a deixar a floresta, onde estavam escondidos, e a voltar para os campos nos arredores de Kisangani.
Por enquanto, entre 5.000 e 10.000 refugiados já reapareceram. A ONU relatara o desaparecimento de 85 mil pessoas dos campos da região. Eles fugiram de confrontos com rebeldes e moradores locais.
Autoridades de ajuda humanitária e jornalistas que acompanharam os refugiados afirmaram ter visto dezenas de corpos de hutus que estavam muito fracos para fugir, no campo de Biaro (45 km ao sul de Kisangani).
Os hutus estão no leste do Zaire desde que sua etnia perdeu a guerra civil para os tutsis, na vizinha Ruanda. Agora, entretanto, eles sofrem a ameaça dos guerrilheiros de maioria tutsi que agem no próprio Zaire. O líder dos guerrilheiros zairenses, Laurent Kabila, exige que a ONU retire os refugiados da área controlada por ele e, depois de muita pressão, permitiu que os funcionários cheguem aos campos de refugiados.
A ONU reclamou, entretanto, que ainda não tem acesso a algumas áreas. "Estou muito desapontado. Tinham prometido acesso livre, mas parece que não é o caso", disse Aldo Ajello, funcionário das Nações Unidas.
Os refugiados disseram que abandonaram Biaro depois de serem atacados por moradores locais, com apoio de rebeldes. Eles conseguiram reagir ao ataque no dia 21, mas fugiram no dia seguinte, quando moradores e rebeldes teriam voltado com reforços.
"Corremos muito, foi terrível", disse um refugiado, trêmulo, ao sair da floresta para encontrar o comboio da ONU.
Os rebeldes negam a ajuda e insinuam que os moradores nativos atacaram os refugiados por cobiçarem o auxílio em comida e remédios que eles recebem.
Apesar disso, há toneladas de comida deixadas na região.
Cidade cercada
Apesar de a disputa com os hutus ser o principal pólo do conflito no leste do país, a única reivindicação do grupo de Kabila é tomar o poder do presidente Mobutu Sese Seko -o que parece iminente.
Ontem, eles cercaram a cidade de Kikwit, a última importante antes de chegar à capital, Kinshasa, e estão prestes a tomá-la.
Os políticos em Kinshasa parecem saber que a queda de Mobutu é inevitável. Ontem, oposição e situação concordaram em eleger Mandungu Bula Nyati para o cargo de líder do Parlamento.
Pela Constituição, caso o presidente não possa exercer suas funções, ele será substituído pelo líder do Parlamento. Nyati comandaria o país durante uma fase de transição entre Mobutu e Kabila.
Os dois vêm se recusando a negociar. O embaixador norte-americano na ONU, Bill Richardson, chegou ontem ao Zaire para tentar convencer Kabila e o presidente zairense a se encontrar.

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